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Bike Azores

A experimentar o verdadeiro sentido da palavra liberdade!

30.08.16

Já pedalei tudo o que tinha para pedalar!


Rui Pereira

Título curioso, este. Ouvi esta frase recentemente, ou melhor, ouvi uma frase semelhante a esta, mas com o mesmo sentido.
Ouvi e não reagi. É certo que não concordo, por achar que se baseia num pressuposto errado e demasiado redutor, mas preferi guardar para mim qualquer argumento que pudesse apresentar. Não sei, no momento achei que não valia a pena. Agora decidi refletir um pouco sobre isso.
A frase, que saiu como uma espécie de justificação, remete-nos para uma hierarquia onde a bicicleta está na base e o automóvel lá no topo. Sob este ponto de vista, a bicicleta serve apenas enquanto não existem alternativas para satisfazer as necessidades de locomoção, sendo que é pronta e definitivamente substituída quando surgem condições para tal.
De facto, quando se pensa em mobilidade visualizamos logo o automóvel como o principal meio para este fim, o que também o torna objeto de desejo, para além de referência de uma suposta posição social.
São questões sociais e culturais, bastante enraizadas e baseadas em preconceitos, que levam a que no ramo da mobilidade e não só, tudo o que implique esforço físico seja associado a necessidade ou carência. Do tipo - Quem anda de bicicleta é porque não pode comprar um carro!
Na verdade, a perspetiva deve ser exatamente a inversa. A introdução da bicicleta nas nossas rotinas diárias deve ser sempre encarada como uma mais-valia. Como uma porta de entrada para uma vida mais ativa e estimulante, tendo uma série de benefícios associados nas mais distintas áreas. Socialmente, na saúde, ao nível da sustentabilidade ambiental, e obviamente, na mobilidade.
Embora já muito procurada para atividades desportivas e de lazer, a bicicleta continua subaproveitada no que toca à sua vocação para as deslocações e o transporte. É como uma excelente ferramenta remetida para o fundo da caixa, posição esta que lhe subtrai boa parte da sua funcionalidade e importância, ignorando-se assim o seu propósito mais básico.