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Bike Azores

A experimentar o verdadeiro sentido da palavra liberdade!

12.03.18

Bicicletas – Conversas e considerações


Rui Pereira

Hoje a minha hora de almoço foi diferente. Praticamente toda ela a falar de bicicletas. Numa loja de bicicletas, à volta de uma bicicleta de enduro elétrica. Falamos de provas, de comportamentos dos ciclistas e dos automobilistas, de infelicidades, obrigações, de voltas e de bicicletas efetivamente.
A partilha de ideias, opiniões e experiências enriquece-nos e pode levar à reflexão e a encarar determinada situação de um ponto de vista que até então não era o nosso.

Resultantes destas mesmas conversas ficam algumas considerações.

- Embora muitos automobilistas ainda não considerem a presença das bicicletas na estrada, o facto é que se nota, de uma forma geral, uma alteração positiva nesse sentido;
- O facto de o quadro legal atual nos ser mais favorável, não quer dizer que tenhamos de o impor à força. Até porque, considerando a nossa posição de vulnerabilidade, trata-se de uma questão de preservação da nossa integridade física;
- Nós, ciclistas ou utilizadores das bicicletas, não devemos tratar os outros como não queremos ser tratados. É básico e a melhor forma de preservarmos a nossa imagem enquanto grupo ou comunidade, que se espera que seja maior a cada dia que passa;
- Ao contrário dos outros interlocutores continuo a ser da opinião que não faz sentido a obrigatoriedade do (tão falado) seguro para as bicicletas. A necessidade do seguro prende-se com a capacidade destrutiva do veículo e, por exemplo, um automóvel tem um potencial destrutivo muito, mas muito, superior ao de uma bicicleta. Numa eventualidade de que resultem danos a outros, dos quais somos responsáveis, teremos de os assumir como noutra situação qualquer;
- Também não concordo com a obrigatoriedade do capacete. A sua recomendação faz todo o sentido, claro, mas deve continuar a caber a cada um equacionar a sua utilização e o grau de risco a que podem estar sujeitos. Pessoalmente, não vejo necessidade de utilizar capacete nas minhas rotinas diárias com a bicicleta, ao contrário do que acontece nos meus passeios em estrada ou fora dela. Os estudos valem aquilo que valem, mas posso mencionar a propósito que se verificou uma quebra no uso da bicicleta após a implementação da obrigatoriedade do uso do capacete em determinados territórios. Outro estudo indica que os automobilistas perante ciclistas com capacete têm uma condução mais descuidada do que quando estão perante ciclistas sem este elemento de proteção;
- Encarar uma bicicleta como um veículo utilitário já tem, só por si, vários constrangimentos. Cultura, mentalidade, organização das cidades, meteorologia, vulnerabilidade, entre outros, portanto, impor-se ainda mais obstáculos à utilização da bicicleta é a receita certa para se persistir num modelo de mobilidade urbana obsoleto e insustentável, centrado no automóvel individual. Exatamente o que não se pretende;
- Eu, como os outros envolvidos na conversa, para além de ciclista (ou utilizador das bicicletas, já que às vezes acho presunçoso denominar-me de ciclista!) sou também automobilista e em qualquer um dos papéis privilegio o bom senso e condeno o chico-espertismo, tanto da minha parte como da parte dos outros. Mas também erro, não sou perfeito. Ah, como automobilista pago seguro, imposto de circulação, inspeção…, coisas que fazem sentido para os automóveis, não para as bicicletas!

Claro que também foi abordado o acontecimento trágico deste fim de semana, um acidente de viação que envolveu um veículo automóvel e uma bicicleta, tendo resultado na morte de um jovem ciclista. Muito triste e lamentável. Uma situação que deixou um clima de pesar e consternação no meio e não só, e que tendo em conta as circunstâncias e o local do sucedido, traz à consciência o pensamento de que podia ter acontecido a qualquer um de nós…

02.03.18

Uma questão de identificação!


Rui Pereira

Um dia destes, perante uma série de publicações em destaque, acedi unicamente aquela que tinha como título, algo com que me identifiquei de imediato. Da mesma forma, compreendo que pouca gente se identifique com as minhas publicações, exatamente por não se rever com aquilo que escrevo.
Ainda ontem, em conversa com um amigo, com o qual partilho gosto, visão e abordagem no que toca às bicicletas, dizia-lhe que, as bicicletas que mais me chamam à atenção ao entrar numa loja são absolutamente transparentes para muitas das pessoas que conheço ligadas às mesmas!
Uma vez, num passeio de BTT, estava presente um desconhecido que se apresentava com uma bicicleta peculiar. Uma XC daquelas à moda antiga, uma rígida, de guiador reto e curto, que notava-se ter uns bons anos de “vida”, embora estimada. Quando abordei a pessoa em causa, dizendo isso mesmo, ele reagiu de uma forma fria e seca, como se eu estivesse a escarnecer da sua bicicleta, quando a estava a elogiar!
De facto, apesar de me considerar relativamente flexível e abrangente, não me encaixo facilmente naquilo que é mais óbvio atualmente. Seja na abordagem, na utilização, na valorização e nas minhas opções relativas às bicicletas. Posso pontualmente seguir uma ou outra vertente, mas afasto-me claramente das atuais tendências.
A necessidade de tecnologia, da leveza levado ao extremo, de materiais e equipamentos de topo no que toca à sua manufatura, nobreza e grau de eficiência, com respetivo preço a condizer, não é exatamente aquilo que mais me diz numa bicicleta, até pelo contrário. O que não quer dizer que não seja perfeitamente capaz de os admirar.
Não sou fundamentalista, mas sou claramente conservador em muitos aspetos. Troco a tecnologia pela tradição e a eficiência pela descontração. Privilegio o clássico e o intemporal ao moderno e futurista. Prefiro o nicho às massas. E lamento que ainda não se dê a devida importância à função mais básica da bicicleta.
Este será mais um texto pouco popular e de difícil identificação. Um texto que vai contra a norma vigente, que a maior parte dos interessados segue disciplinadamente, seja por motivações pessoais, seja por pressões de marketing e de mercado. Mas sei que alguns estão comigo. Poucos é certo, mas, com certeza, bons!