Progredia no percurso. Os desníveis não permitiam fazê-lo de forma tão calma como pretendia. Nas subidas mais ingremes tinha de erguer-me do selim e pedalar com convicção. Nas descidas tinha de agarrar o guiador, dosear o travão dianteiro e usar as pernas como se fossem o travão traseiro para conter a rotação dos pedais. Estava mais ou menos a meio do segundo dia e os quilómetros acumulados faziam-se sentir.
Em certa zona da costa norte da ilha, com as suas freguesias, o trajeto parece estar sempre a repetir-se. Numa das habituais descidas, que terminam em pontes seguidas de subidas, percebi que era especialmente longa e acentuada. Olhei para a minha direita para tentar vislumbrar o que me esperava. Sim, era uma subida… equivalente à descida, claro.
Mais palavrão menos palavrão, calquei os pedais a ritmo lento, erguido, com os olhos no chão. Senti o peso nas pernas, a pulsação a disparar e a respiração ofegante cada vez mais audível. Veio-me à cabeça um sábio conselho que tinha recebido uns dias antes:
”… e saber que, se for preciso ir a pé com a bike pela mão, também é válido. O importante é curtir a viagem!”
Se calhar é o melhor que tenho a fazer – pensei.
Progredi mais uns metros e já via umas curvas lá no topo que com certeza fechavam esta sinuosa subida. Parei. Atravessado na faixa fiquei de frente para uma espécie de vale fundo com frondosa vegetação. Uma zona de clareira que permitia ver a descida do outro lado. E o muro baixo que me separava daquele cenário fez-me tomar consciência das consequências de um possível descuido. Até agarrei o guiador com mais força. Posicionado entre este e o selim, com o sapato direito encaixado no pedal e o esquerdo no chão, aproveitei para “acalmar” um pouco e ponderar o que fazer.
Continuar ou desmontar?
Olhei para cima e depois para baixo... deixei a bicicleta deslizar, montei o selim e encaixei o sapato. Ganhei balanço e virei para cima decidido.
Sabia que estava no Nordeste, mas não exatamente onde, até que vi uma placa indicativa de um miradouro… “Despe-te que Suas”.
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Captura da história que fiz para o instagram no momento, ainda a tentar que o coração não me saísse pela boca!