Não tinha a bicicleta pronta para a poder utilizar na minha habitual deslocação à hora de almoço. Fui a pé. É estranho, para mim e para os outros. Sem saber a que ponto chegava essa estranheza...
- Vieste nu! - O quê? - Hoje vieste nu! - Como assim? - Oh, não vieste de bicicleta!
Olhos semicerrados, cabeça e ombros caídos, olhos no chão, a arrastar os pés pesados… sou eu a tentar regressar à escrita!
Há um ano e três dias atrás estava aos comandos da minha Globe Roll 01, de carreto fixo, a percorrer as estradas da Ilha, numa volta solitária, inédita e desafiante. Foram dois dias incríveis que ficarão para sempre na minha memória. Não foi só a superação do desafio em si, foi o exemplo que isso representou para outros departamentos da minha vida. Afinal… era capaz! Um ano e três dias depois, não tenho andado tão próximo das bicicletas como seria suposto. Embora com uma tatuada no braço, que ficará para sempre comigo, atravesso uma daquelas de fases de afastamento que espero termine em breve. Só depende de mim. Com a chegada do outono, a bicicleta de carreto fixo e de rodas cor de laranja entrega o testemunho à citadina e ferrugenta Órbita Classic, com uma caixa de fruta a servir de bagageira. Os “Nothing But Thieves” embalaram estas minhas palavras. Uma das suas canções tem um título revelador, “Real Love Song”... Real é também o que sinto pelas (minhas) bicicletas.
Esta é a frase que melhor define a minha relação com esta pista, que também considero um bocadinho minha.
Já se passou um ano e muito coisa aconteceu. E nem todas foram boas.
“O ponto negro no pulmão verde da cidade”
Sobre esta frase que alguém proferiu? - Ridícula!
Aposto que estes teóricos do “ponto negro” são os que menos aproveitam tudo o que o Parque Urbano de Ponta Delgada tem para oferecer...
Vandalismo
Esta pista tem dado que fazer, para além daqueles que assumem os comandos das suas bicicletas, skates, trotinetes e até patins, e encaram os seus obstáculos. Duas placas relativas à inauguração arrancadas, painel de recomendações de utilização grafitado, tal como algumas linhas delimitadoras da pista. A última, corte dos fios elétricos que permitiam a iluminação da mesma.
Democrática e acessível, mas…
A Pump Track não é nem um carrossel nem um parque infantil. Até porque estamos a falar de um percurso sinuoso em asfalto. No entanto, ver ali um/a miúdo/a de tenra idade, aos comandos de uma bicicleta de equilíbrio, é tão satisfatório e a prova de que esta pista é acessível a quase todos.
Exercício físico
Tal como indica a sua designação, trata-se de uma pista de bombeio. A ideia é bombear com os devidos movimentos do corpo, aproveitando os desníveis e as curvas em apoio para progredir da forma mais fluida possível. Quanto mais depressa formos, mais decididos, intensos e focados temos de ser, o que acaba por ser bastante exigente fisicamente. Definitivamente, um excelente exercício físico integral. Por falar em pulmão… é preciso tê-los.
Diversão
A ritmos mais elevados, as hesitações e a falta de concentração podem resultar em situações menos agradáveis. Mas, superar receios, aumentar o ritmo e manter a fluidez é incrivelmente divertido. Todo aquele ambiente é positivo. A maioria das pessoas que lá estão, vão pelas mesmas razões. Querem curtir e aproveitar. A andar nesta pista sinto-me leve e confiante, esqueço as preocupações, sinto-me o puto que já não sou!
Perigosa?
O risco está sempre presente. Não é à toa que o uso de capacete é obrigatório e as restantes proteções recomendadas, mesmo que neste momento estas informações estejam ocultas por baixo de grafitis parolos. Os níveis de risco são invariavelmente maiores quanto maior for o desconhecimento ou o excesso de confiança. Não vou mentir, aflige-me um bocado que alguns pais, sem qualquer conhecimento sobre este equipamento, estejam ali a ver os filhos, totalmente inexperientes, como se estivessem num parque infantil. Tendo alguma teoria/prática de funcionamento, boa conduta e, já agora, o equipamento mínimo recomendado, é perfeitamente possível circular na pista de forma tranquila e segura.
Manutenção
Sinceramente, quando soube da intenção não acreditei na concretização desta obra. Mas quando vi para crer, aplaudi. Foi um investimento considerável por parte da Câmara Municipal de Ponta Delgada, mas totalmente justificado e de acordo com o que se espera de uma entidade que se preocupa com a saúde e qualidade de vida da população que serve, apostando em equipamentos de qualidade para incentivar as boas práticas e hábitos de vida saudáveis. O local escolhido para o efeito também me parece óbvio. Por outro lado, não posso deixar de lamentar que esta Pump Track me pareça um bocado ao abandono, no que à manutenção diz respeito. Percebo que já estejam fartos das situações de vandalismo que persistem, mas o investimento está feito e bem feito, portanto, vamos mantê-lo. Ou vamos deixar que estagente leve a melhor?
Por exemplo, as zonas interiores em terra já deviam estar todas relvadas. Como estão, dão mau aspeto e ar de equipamento meio abandonado. Para além disso, quanto mais consistentes forem, menos suja fica a pista e a solidez da sua estrutura mais dificilmente poderá ser posta em causa. Mas o apelo vai também para os seus utilizadores. Temos que colaborar com a entidade responsável para deixar-lhe sempre impecável. Se todos fizerem a sua parte tudo é mais fácil.
Como adepto das bicicletas, julgo que é perfeitamente percetível o quanto gosto desta Pump Track. E, como cidadão, o orgulho que tenho neste equipamento!
Chegou o dia. Gosto de tatuagens e sempre quis fazer uma. Mas tinha sempre argumentos muito válidos para não o fazer… Uma tatuagem é definitiva. É uma coisa estranha no corpo! Só agora fui capaz de priorizar a minha vontade. O desenho – óbvio e previsível – uma bicicleta! O contorno de uma bicicleta de carreto fixo (fixed-gear), mais propriamente. O local – há muito escolhido – o interior do antebraço direito! Dois estúdios, dois orçamentos. Acabei por decidir por conveniência, aquele onde era possível fazer mais cedo, não fossem os argumentos virem novamente ao de cima e esta continuar a ser uma ideia permanentemente adiada. Esta tatuagem é minha e para mim. Tinha de a ver num simples rodar de braço. Gosto de a ver enquanto ando de bicicleta. Como disse uma amiga, “simples, gira e com significado…” Assim é.
Os INSOMNIUM são uma das bandas mais presentes na minha vida nos últimos tempos. A música é essencial ao meu bem-estar, mesmo que reflita escuridão, tristeza e toda uma carga negativa, elevadas por instrumentos tocados de forma extrema, na companhia de vozes vociferadas que debitam palavras carregadas de dor. Tudo harmonicamente embalado com a dose certa de melodia! O Metal é companhia e volume que me preenche. É paz interior. É catarse. Assim é a música dos INSOMNIUM. Cada canção… um Hino! O mais puro e fino “Melodic Death Metal” oriundo do norte da Europa (Finlândia).
Na minha última publicação falei em questões de idade. Já lá vão seis meses. Hoje falo de tempo. Daquele que levei sem conseguir escrever, mas, também, daquele que permitiu que muita coisa acontecesse. Destreinado, é com dificuldade que retomo a escrita. A tentar gerir o que devo ou não escrever, sem querer explorar demasiado, mas ciente do efeito catártico que as palavras podem ter. Foi tempo de decisões. De gerir as suas consequências. De entrega e retirada. De certezas e dúvidas. De expetativas e frustrações. De mudança! Hoje sou uma nova pessoa. Não, sou a mesma pessoa, mas ainda mais diferente. Na forma como me relaciono com os outros e com as coisas. E como ainda tenho de aprender a relacionar-me comigo próprio perante a minha nova realidade… Dar tempo ao tempo. Deixar a vida acontecer. Sem expetativas.
Sobre skates e surfskates. Conversa com um rapaz que conheci por estarmos os dois a andar de skate.
- Vou fazendo aquilo que posso à minha maneira. Comecei tarde e depois a idade... - Eu também comecei tarde. A idade não interessa. - Pois, também é verdade. Que idade tens? - 31. - Tenho 46! - Ah, pois, já é outra idade. - Pois... (Risos)
Este é um waveboard, não um surfskate, mas há falta de melhor imagem...