Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Bike Azores

A experimentar o verdadeiro sentido da palavra liberdade!

03.10.22

Da terapia à realidade

SMG FIXED ’22 - Volta à Ilha de São Miguel em Bicicleta de Carreto Fixo


Rui Pereira

Não foi um exercício de ironia falar em terapia num texto que anunciava a minha intenção de dar a volta à ilha em bicicleta de carreto fixo. Se calhar até foi um pouco, mas, no essencial, a mensagem que queria deixar é que é possível desfrutar de algo que nos é muito significativo, mesmo que esteja implícito um considerável desafio e respetivo esforço físico.

A realidade é que, se calhar também, não sei bem onde me estou a meter. Conheço todas as estradas por onde terei de passar, mas a verdade é que a maioria delas nunca as fiz de fixed-gear. Muito menos de forma tão concentrada. Sim, já fui às Furnas, mas nunca depois de ter feito todo o lado oeste da ilha. A minha forma física também não é exemplar e estou pouco habituado às grandes distâncias.

Por outro lado, já tenho uns anos de fixies, ou não tivesse três destes espetaculares “espécimes”. E faço muito mais com elas do que dar umas voltinhas no passeio junto à praia, na ciclovia ou na baixa da cidade. Aliás, faço por replicar exatamente os mesmos percursos que percorro aos comandos das minhas bicicletas convencionais. Não sou um campeão, mas já tenho à vontade e conhecimento suficientes para perceber o que consigo ou não fazer.

smg_fixed_22_1.jpg


Claro que nem sempre estou certo. Quando a coisa não dá mesmo, admito a petulância e dou meia volta. Neste caso, não é o que vou fazer. Tenho de ter capacidade para engolir sapos ainda maiores do que é costume e avançar perante as contrariedades. Acho que consigo e quero muito fazer isso!

Foco, gosto e vontade… É aqui que reside a diferença. É este o meu segredo que, no fundo, não é segredo nenhum.

Já escrevi sobre a relação com a minha primeira bicicleta de carreto fixo inúmeras vezes. Sobre as várias formas como já lhe encarei, como já deixou de ser uma carreto fixo para ser uma “roda livre”. Julguei que nunca ia conseguir dominá-la, que não era bicicleta para mim. Que muitas vezes era apanhado na armadilha de pensar estar sobre uma bicicleta “normal”.
Hoje ando nelas com a mesma naturalidade com que ando nas outras. Mais atento, mais desperto, mais concentrado e ainda mais preventivo, mas naturalmente.

smg_fixed_22_2.jpg


Não sou tolo ao ponto de pensar que só isso chega. Preciso de alguma capacidade física e pernas fortes para pedalar, mas não preciso de dotes de atleta. A minha preparação passa apenas por aumentar a frequência das saídas a pedais, mas também pela maior diversificação do exercício físico, isso porque não tenho andado especialmente ativo nos últimos tempos, se não contar com as idas à Pump Track. Comer e descansar bem.

Numa bicicleta de carreto fixo, as subidas são tramadas, mas as descidas também. Enquanto nas outras até são porreiras para descomprimir, nestas vamos sempre em tensão tentando impedir o rolamento excessivo com as pernas, mas também com os braços, já que a força para contrariar a velocidade faz com que a bicicleta fique instável, oscilando lateralmente. Perder a transmissão neste momento pode muito bem fazer lembrar um comboio desgovernado.

Na verdade, acho que nunca estarei totalmente preparado. Por isso…

Com calma. A aproveitar. A gerir. A desfrutar. De (pequena) meta em (pequena) meta até ao objetivo.

Vai ter de ser.

29.09.22

Terapia

SMG FIXED ’22 - Volta à Ilha de São Miguel em Bicicleta de Carreto Fixo


Rui Pereira

miradouro_picobodes.jpg
A olhar para a ponta leste da minha ilha e a pensar na melhor forma de lhe dar a volta!

Pode ser apenas um devaneio ou uma resposta à crise da meia-idade, mas quero submeter-me a um desafio: SMG FIXED ’22 - Volta à Ilha de São Miguel em Bicicleta de Carreto Fixo. Foi assim que apelidei o evento em que já ando a matutar desde o ano passado e que tem sido adiado sem razões aparentes. Talvez o receio do compromisso ou da dimensão do mesmo e de todo o esforço implícito.
Mais do que a (apelativa) dificuldade que terei de superar, o que me leva a querer fazer algo do género é proporcionar a mim mesmo dois dias de uma espécie de retiro, em que me “relacionarei” apenas com a bicicleta, a estrada e os meus pensamentos, fazendo aquilo que mais gosto. Solidão, gestão e reflexão serão com certeza palavras presentes.
Há quem o faça num só dia, sozinho ou em grupo, mas com bicicletas de estrada convencionais. No meu caso, e como pretendo fazê-lo em bicicleta sem velocidades e com carreto fixo, é mais sensato dividir a coisa em dois dias. São mais de 200 quilómetros com diferenças consideráveis ao nível da altimetria que terão de ser pedalados na íntegra e sem possibilidade de desmultiplicação. O carreto fixo a isso obriga.
Como já disse em outros desafios aos comandos da minha Globe Roll 01, a bicicleta escolhida, mais do que a preparação física, que nem sequer abunda, o essencial é ter disponibilidade mental para o efeito. E essa, com o meu gosto e motivação associados, atenua sobremaneira as dificuldades apresentadas.
Descontraído, mas não leviano, a minha postura é ir saboreando o percurso sem pensar muito no destino. Levar as coisas minimamente delineadas e estar preparado para possíveis imprevistos sem centrar neles o meu foco. Sem pressa, sem tensão, com alegria. Um fim de semana de terapia.

02.09.21

Sete Cidades Fixed-Gear


Rui Pereira

Adivinhando o abrandar do ritmo, natural em período de férias, recorri mais uma vez aos préstimos da bicicleta de carreto fixo para me superar e quebrar mais umas quantas barreiras.
Desta feita foi uma espécie de volta ao concelho via Sete Cidades. E assim, ficou fechado o circuito de visitas às nossas principais lagoas: Furnas; Fogo e Sete Cidades.

roll01_zundapp.jpg


Se recuar uns anos, quando achava a “fixed-gear” demasiado limitada, era impossível sequer pensar fazer algo do género. Tanto que, várias vezes e em voltas corriqueiras, até me arrependi de a ter comprado.
Em outros testemunhos da saga referi que a parte mental foi, é e será sempre determinante para a concretização destes objetivos. Isso foi novamente confirmado e, da pior maneira. Desta vez senti muito mais dificuldades, em boa parte por não estar cem por cento alinhado.
Sim, estava calor e o percurso era relativamente grande, tal como o diferencial de altitude. É verdade que já tinha passado mais horas sobre a bicicleta e subido mais nas voltas anteriores, mas também é provável que esta consiga juntar estas razões de forma mais efetiva. Ou então é apenas a minha perceção, já que não disponho de dados precisos para o efeito.

roll01_bmw.jpg


O certo é que enquanto subia para a Vista do Rei passou-me pela cabeça dar meia volta e regressar. Mais do que uma vez… mas lá fui.
Nunca cheguei a sentir um grande entusiasmo, algo que aconteceu anteriormente mesmo perante consideráveis dificuldades e, então, recorri ao básico passo a passo, no caso, pedalada a pedalada, com a decomposição do grande objetivo em outros mais pequenos para mais fácil concretização.
Até parece que estava cheio de estratégias, não parece? Nada disso, foi apenas o meu instinto de sobrevivência em ação!
Plano, sobe e desce, desce e sobe, plano – aqui fica o resumo do percurso!
No fim, aquela mistura de cansaço com satisfação e o reforço da minha ligação a estas bicicletas tão especiais.

roll01_coracao.jpg


E agora?
Tenho dado uma voltas mais básicas, por acaso, de carreto fixo... vai-se lá saber porquê. Bom, agora... vou ver se começo a dar mais uso às minhas bicicletas com mudanças!

23.06.21

Furnas Fixed-Gear


Rui Pereira

As limitações físicas contam, mas as psicológicas determinam.
Assim, fazer uma distância considerável, muito sobe e desce pelo meio, com uma bicicleta de carreto fixo, depende essencialmente das segundas, logo que as primeiras estejam minimamente controladas.

furnas1.jpg


O que me fez levantar cedo no último domingo foi essencialmente a minha disponibilidade (mental) para pegar na bicicleta (de carreto fixo), atravessar a Ilha para sul, seguir em direção às Furnas e voltar via norte. Não foi pela minha condição física, nem pelas condições gerais ideais (meteorológicas, etc.) para fazê-lo. Aliás, como se sabe, esperar pelas condições ideais para fazer alguma coisa é quase o mesmo do que não fazer.
Sabia que tinha umas boas horas de pedalada pela frente, até porque o percurso não era uma novidade. Já a bicicleta… aí comecei a considerar as dificuldades. O tempo de execução, a influência do vento, a presença do calor. O tempo efetivo de pedalada, porque aqui só se para de pedalar parando a bicicleta. Mas, ao mesmo tempo, tentei não ficar demasiado ansioso com isso e, simplesmente, desfrutar.
Sim, é possível desfrutar sozinho e perante tal “empreitada”, quando existe disponibilidade, empenho, descontração e muito gosto à mistura!
Perante as subidas ansiei pelas descidas e perante as descidas exatamente o contrário. O cenário mais apropriado à máquina – plano, por aqui, não abunda!

furnas2.jpg


Fui gerindo pedalada a pedalada. Foi difícil, mas tão satisfatório. E os meus pensamentos deambularam entre querer chegar a casa (o mais depressa possível) e o não querer que o percurso acabasse...

24.07.20

Mudança única e carreto fixo! (2)

Globe Roll 01 - Seis anos depois


Rui Pereira

Uma grande superfície ligada ao desporto tinha na montra uma fixie, soube por um colega. Andava há muito tempo a “estudar” a compra duma. Ao final do dia fui vê-la. Não era uma maravilha, mas em compensação era barata. Ponderei.
Bicicletas do género não eram (nem são) nada fáceis de ver por cá. Também achei não ser razoável fazer muito investimento, porque havia sempre a possibilidade de não me adaptar. A compra à distância deixou de ser opção, e assim, tinha registada a Globe Roll 01 disponível na minha loja de referência. Mas, ainda era cara. Não perdia nada em saber se me conseguiam fazer melhores condições de aquisição antes de tomar uma decisão. Fizeram.
A opção da grande superfície ficou posta de lado e no dia seguinte de manhã, um sábado, estava na loja para levantar a Globe. Entusiasmado e apreensivo. O normal, portanto.
Já lá vão 6 anos. O decorrer do tempo já mostrou diferentes níveis de proximidade e interação, diferentes configurações, entre fixed-gear e singlespeed, e pouca personalização, sendo que a última e mais relevante foi a troca do guiador original por um reto de maior dimensão. O certo é que nunca tive tão próximo desta bicicleta e do seu conceito como estou agora!
A Globe Roll 01 foi a minha janela de oportunidade, a minha porta de entrada num mundo novo, no que diz respeito às bicicletas. Um mundo que me diz muito e com o qual, cada vez mais, me identifico.
Tal como disse em 2014, aquando da sua compra, continuo a dizer com legitimidade e orgulho:


“My legs are my gears”

globe_janela.jpg

21.07.20

Lagoa do Fogo!


Rui Pereira

Já não me lembrava da dureza da última secção do trajeto. E do quão irritantes podem ser as inúmeras placas azuis a anunciar o próximo miradouro a 200m, quando aquilo parece nunca mais ter fim…

roubaix_lagoa_fogo.jpg


Ir de bicicleta à Lagoa do Fogo, mais concretamente ao topo da Serra de Água de Pau, é dos percursos mais intimidantes que temos por cá. A subida é dura e longa, e a descida rápida e intensa, tal como seria expetável. Determinação e concentração serão convenientes, quer numa quer noutra. Por outro lado, é um trajeto igualmente apelativo. Pelo desafio, pela envolvência ambiental e paisagística. Pelo traçado e demais pontos de interesse associados. Pela introspeção permitida. É um sofrimento bom!
E toda esta realidade varia conforme o lado em causa. Se para mim o lado Norte não é propriamente um desconhecido, tanto a subir como a descer, ainda não me estreei numa subida pelo Sul. Dá para perceber que é diferente, resta saber quanto!
Não consigo expor dados relativos a distância total ou acumulado de altitude com precisão, mas acho que ao nível da competição recebe o pomposo título de montanha de 1ª categoria.
Curiosamente, ainda não tinha lá ido com a minha Roubaix. Aliás, há muito tempo que lá não ia... Antenas à vista lá no topo, tempo encoberto e relativamente fresco. Olhei para o cume, uma e outra vez, fui-me mentalizando para a subida à medida que me aproximava da entrada de acesso. Virei à direita e enquanto desmultiplicava a transmissão já sabia o que me esperava na próxima hora…
Para cima é que é caminho!

07.07.20

Fixies, skids, joelhos, presente, futuro!


Rui Pereira

Os meus joelhos ressentem-se dos skids
Mas é mais forte do que eu, agora que finalmente domino a manobra com mais à vontade e não resisto fazê-la. E não posso exatamente usar o argumento - necessidade, uma vez que para contrariar o movimento excessivo dos pedais à força de pernas conto com o auxílio do travão dianteiro.
Os meus joelhos também se ressentem desta mesma rotação elevada e da minha oposição…
Passa-me tanta coisa pela cabeça…
Não ter nem 20 nem 30 anos, que é o mesmo que dizer que devia ter-me dedicado mais cedo e que já tenho idade para ter juízo; ter de gerir as minhas mazelas e respetivas consequências; estar a desgastar pneu escusadamente.
Ou a memória é curta ou a atração é tão grande que nada é motivo para, domingo após domingo, não levar a fixed-gear para a estrada.
Quem anda de bicicleta sabe que a luta com a respetiva é uma constante. No caso de uma bicicleta tão peculiar a luta é ainda mais intensa, crua e visceral.
Será que o meu joelho esquerdo vai aguentar mais uma ou duas décadas disso? Não sei. Tenho consciência que é preciso alguma moderação e preservação, mas não vou deixar aquilo que tanto gozo me dá fazer em nome do incerto.
Assim, o certo é que (muito provavelmente) vou-me queixar do(s) joelho(s)...
Não é uma coisa boa, mas acho que existem piores. Como por exemplo, daqui a uns anos, estar sentado num sofá em frente à televisão, com os joelhos lixados na mesma, já sem poder andar de bicicleta, a pensar no quanto devia ter aproveitado hoje…

globe_arvores.jpg

26.03.20

Ficar em casa!


Rui Pereira

Hoje levantei-me relativamente cedo, fiz a barba e restantes práticas higiénicas, vesti-me e bebi um copo de café. Fiz umas flexões.
Podia ser a descrição de um início de dia ideal para quem está a trabalhar a partir de casa, onde as rotinas são mantidas, mas não passa de uma exceção. As flexões, por exemplo, já nem sei quando foi a última vez...
Não que tivesse uma vida muito ativa e entusiasmante, mas como metódico que sou, tinha as minhas rotinas e os meus hábitos bem implementados, segmentados e organizados. Esta mudança abrupta deixo-me um bocadinho à toa, que é como quem diz, desmotivado e preguiçoso.
Ficar em casa e não ter de ir trabalhar foi o que sempre quis, mas não nestas circunstâncias!
Tenho falhado nas rotinas, na alimentação, no exercício físico, na escrita. Nem tenho vindo aqui para acompanhar as publicações de quem sigo. Mesmo com as normais obrigações relativas ao teletrabalho, agora que supostamente tenho mais tempo e mais devia fazer, nem que fosse para distrair de toda a triste realidade que se vive atualmente, menos faço.
Não faltam exemplos positivos de quem não se deixa abater pelas novas circunstâncias e faz, treina, arruma, cria, inventa...
Mas hoje levantei-me relativamente cedo e quis inverter esta tendência. Por isso escrevo este texto, na tentativa de desabafar, motivar-me e comprometer-me. É que agora, mais do que nunca, a falta de tempo não é desculpa!

05.02.20

Andar de bicicleta é...


Rui Pereira

O som caraterístico da roda traseira funde-se com o som da deslocação do ar impulsionado pela velocidade. A estes, acresce o da fricção dos pneus no asfalto, no caso, mais ténue, e o do roçar dos calços dos travões na pista das rodas para o efeito, sempre que são acionados.
- Andar de bicicleta é um brinde aos sentidos e às sensações!
Às vezes nem damos por isso, porque os pensamentos fluem como que a acompanhar o rolar da bicicleta.
- Andar de bicicleta é distrair-nos de tão concentrados e concentrar-nos de tão distraídos!
O corpo acusa a entrada brusca na fenda presente no asfalto impossível de evitar. Ai! Mas pronto, está tudo bem. Prossiga a marcha.
- Andar de bicicleta é testar o nosso poder de reação e improviso!
Uma via ligeiramente descendente leva-nos a meter carga na transmissão e a aumentar o ritmo e a força na pedalada. A velocidade aumenta exponencialmente, a par do batimento cardíaco e da temperatura corporal.
- Andar de bicicleta é ir ao limite físico, é experimentar o bom da dor e do cansaço!
Os sentidos despertos, a concentração elevada, a pronta resposta. A velocidade. O controlo. O gozo de a levar…
- Andar de bicicleta é um exercício pleno de liberdade, desafio, bem-estar e prazer!

03.10.19

"Água de Coco"


Rui Pereira

Arrasto-me. Cansado, desidratado. Peso nos ombros, cabeça baixa. Os pensamentos negativos debilitam-me o corpo, ainda mais. Visão turva, músculos entorpecidos. Progrido lentamente, penosamente. Focado no destino, desesperando a chegada. Sigo indiferente, isolado. Que sacrifício! Que gosto é este?! Estou cansado, tenho fome. Quero parar, tenho sede!