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Bike Azores

A experimentar o verdadeiro sentido da palavra liberdade!

09.10.22

Sozinho

SMG FIXED ’22 - Volta à Ilha de São Miguel em Bicicleta de Carreto Fixo


Rui Pereira

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Tenho recebido apoio de várias pessoas. O típico, poucas mas boas.
No meio destas existe uma ou outra mais curiosa, que faz perguntas, que analisa as possíveis zonas mais complicadas do percurso e que quer saber mais pormenores técnicos relativos à bicicleta. Numa destas conversas surge a pergunta:
“Vais fazer isso sozinho?!”
Até agora o principal foco de dificuldade estava centrado na ausência de velocidades, no carreto fixo e toda a relação com a extensão e as inclinações do percurso.
Lembro-me perfeitamente da importância de ter o meu amigo António ao lado na subida à Lagoa do Fogo, por exemplo. Sim, vou sozinho e isso será mais uma dificuldade a acrescentar à lista.
Foi assim que pensei esta volta à ilha. Num fim de semana (2 dias), sozinho e de forma autónoma. Depois surgiu a possibilidade de ter um companheiro, mas, como neste momento não é possível, voltei à ideia original.
Estou ciente do desafio psicológico que tenho pela frente, porque a possibilidade de me distrair é menor, portanto, a concentração nas dificuldades é maior. É exatamente isso que terei de evitar e focar-me na experiência, no privilégio de poder fazer uma aventura destas, no ambiente e nas paisagens que me rodeiam e na progressão do percurso, passo a passo, sem preocupar-me demasiado com o destino.
Podem reunir-se circunstâncias que prejudiquem as minhas intenções e pouco poderei fazer para as evitar, mas posso controlar a minha reação às mesmas. Por isso mesmo já falei em solidão, gestão e reflexão.
Posso sempre falar comigo próprio ou com a bicicleta. Acontece tantas vezes…

06.10.22

A bicicleta – Globe Roll 01

SMG FIXED ’22 - Volta à Ilha de São Miguel em Bicicleta de Carreto Fixo


Rui Pereira

Foi a minha primeira bicicleta de carreto fixo e é a escolhida para os maiores desafios que implicam tão peculiar transmisão. Bonita, elegante, monocromática e minimalista, será mais uma vez posta à prova.

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É a melhor e a mais leve das três, apresentando uma relação de transmissão intermédia, que acaba por ser a mais amigável nas subidas, mas um tanto ou quanto curta no plano e principalmente nas descidas. São 42 dentes no prato e 17 no carreto que, a par do seu peso e geometria, fazem dela a melhor opção para eventos de maior dimensão.
É uma bicicleta de catálogo, com equipamento generalista, mas que funciona muito bem. Podem acusar-me de não ter um termo de comparação à altura, o que é verdade, mas, talvez por ter sido a minha primeira fixed-gear, tenho um carinho especial por ela e sinto-me muito bem aos seus comandos.

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Esta companheira, que nem sempre foi sentida como tal, já me levou às Furnas, ao topo da Serra da Barrosa (Lagoa do Fogo) e às Sete Cidades. E o sentimento de superação foi incrível. Inspirado pelos/as meus/minhas camaradas do carreto fixo – Azores Fixed, tenho feito coisas que nunca imaginei fazer.
De todas as aventuras a maior será esta de que agora falo - Volta à Ilha de São Miguel em Bicicleta de Carreto Fixo. Ainda não foi concretizada, mas estou convicto que, aos comandos da minha Globe Roll 01, será.

06.10.22

Otimista

SMG FIXED ’22 - Volta à Ilha de São Miguel em Bicicleta de Carreto Fixo


Rui Pereira

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Está marcado. Dias 15 e 16 de outubro. Resta-me esperar que o tempo esteja favorável e não dificulte ainda mais o que só por si já não é fácil.
Está a pouco mais de uma semana. A pouca logística está tratada, a “preparação” física a decorrer, faltando adquirir alguns suplementos nutritivos. E claro, dar uma vista de olhos na bicicleta, principalmente pneus e transmissão. Ainda tenho tempo.
O equilíbrio físico é que me preocupa um pouco. Por um lado, preciso ganhar algum ritmo, por outro, não posso exagerar, pois já tenho o joelho a reclamar da regularidade. Nada de novo para mim, mas sempre complicado de gerir.
Psicologicamente continuo confiante e tranquilo. E nem me está a afligir o facto de já ter uma data e da mesma se estar a aproximar. É que quero mesmo fazer isso e se acho que este é o momento, é porque deve ser.
Domingo tive oportunidade de fazer o reconhecimento da parte final do percurso do primeiro dia – Furnas/Povoação. Conclusão: A descida acidentada presente é a garantia que vou ter de sofrer mesmo até ao fim do dia.
Arredondando, e segundo o Google Maps, são cerca de 120km no primeiro dia e 80km no segundo. Tentei equilibrar melhor as distâncias entre cada um deles, mas em termos logísticos foi mais fácil assim. Talvez seja mesmo melhor ter uma etapa mais curta no domingo.
Não uso, nem vou usar, aplicações que registem/comprovem o percurso feito. Utilizarei o telemóvel apenas para algum registo fotográfico ou em caso de emergência. O que interessa é que o mesmo fique registado na minha memória como algo muito positivo, até porque depois terá com certeza direito a relato(s) escrito(s).
Não quero estar a fazer futurologia, mas se correr de feição, quem sabe se esta não poderá ser primeira de várias edições?
Hummm… Quem é que está a ser demasiado otimista, quem é?

03.10.22

Da terapia à realidade

SMG FIXED ’22 - Volta à Ilha de São Miguel em Bicicleta de Carreto Fixo


Rui Pereira

Não foi um exercício de ironia falar em terapia num texto que anunciava a minha intenção de dar a volta à ilha em bicicleta de carreto fixo. Se calhar até foi um pouco, mas, no essencial, a mensagem que queria deixar é que é possível desfrutar de algo que nos é muito significativo, mesmo que esteja implícito um considerável desafio e respetivo esforço físico.

A realidade é que, se calhar também, não sei bem onde me estou a meter. Conheço todas as estradas por onde terei de passar, mas a verdade é que a maioria delas nunca as fiz de fixed-gear. Muito menos de forma tão concentrada. Sim, já fui às Furnas, mas nunca depois de ter feito todo o lado oeste da ilha. A minha forma física também não é exemplar e estou pouco habituado às grandes distâncias.

Por outro lado, já tenho uns anos de fixies, ou não tivesse três destes espetaculares “espécimes”. E faço muito mais com elas do que dar umas voltinhas no passeio junto à praia, na ciclovia ou na baixa da cidade. Aliás, faço por replicar exatamente os mesmos percursos que percorro aos comandos das minhas bicicletas convencionais. Não sou um campeão, mas já tenho à vontade e conhecimento suficientes para perceber o que consigo ou não fazer.

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Claro que nem sempre estou certo. Quando a coisa não dá mesmo, admito a petulância e dou meia volta. Neste caso, não é o que vou fazer. Tenho de ter capacidade para engolir sapos ainda maiores do que é costume e avançar perante as contrariedades. Acho que consigo e quero muito fazer isso!

Foco, gosto e vontade… É aqui que reside a diferença. É este o meu segredo que, no fundo, não é segredo nenhum.

Já escrevi sobre a relação com a minha primeira bicicleta de carreto fixo inúmeras vezes. Sobre as várias formas como já lhe encarei, como já deixou de ser uma carreto fixo para ser uma “roda livre”. Julguei que nunca ia conseguir dominá-la, que não era bicicleta para mim. Que muitas vezes era apanhado na armadilha de pensar estar sobre uma bicicleta “normal”.
Hoje ando nelas com a mesma naturalidade com que ando nas outras. Mais atento, mais desperto, mais concentrado e ainda mais preventivo, mas naturalmente.

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Não sou tolo ao ponto de pensar que só isso chega. Preciso de alguma capacidade física e pernas fortes para pedalar, mas não preciso de dotes de atleta. A minha preparação passa apenas por aumentar a frequência das saídas a pedais, mas também pela maior diversificação do exercício físico, isso porque não tenho andado especialmente ativo nos últimos tempos, se não contar com as idas à Pump Track. Comer e descansar bem.

Numa bicicleta de carreto fixo, as subidas são tramadas, mas as descidas também. Enquanto nas outras até são porreiras para descomprimir, nestas vamos sempre em tensão tentando impedir o rolamento excessivo com as pernas, mas também com os braços, já que a força para contrariar a velocidade faz com que a bicicleta fique instável, oscilando lateralmente. Perder a transmissão neste momento pode muito bem fazer lembrar um comboio desgovernado.

Na verdade, acho que nunca estarei totalmente preparado. Por isso…

Com calma. A aproveitar. A gerir. A desfrutar. De (pequena) meta em (pequena) meta até ao objetivo.

Vai ter de ser.

29.09.22

Terapia

SMG FIXED ’22 - Volta à Ilha de São Miguel em Bicicleta de Carreto Fixo


Rui Pereira

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A olhar para a ponta leste da minha ilha e a pensar na melhor forma de lhe dar a volta!

Pode ser apenas um devaneio ou uma resposta à crise da meia-idade, mas quero submeter-me a um desafio: SMG FIXED ’22 - Volta à Ilha de São Miguel em Bicicleta de Carreto Fixo. Foi assim que apelidei o evento em que já ando a matutar desde o ano passado e que tem sido adiado sem razões aparentes. Talvez o receio do compromisso ou da dimensão do mesmo e de todo o esforço implícito.
Mais do que a (apelativa) dificuldade que terei de superar, o que me leva a querer fazer algo do género é proporcionar a mim mesmo dois dias de uma espécie de retiro, em que me “relacionarei” apenas com a bicicleta, a estrada e os meus pensamentos, fazendo aquilo que mais gosto. Solidão, gestão e reflexão serão com certeza palavras presentes.
Há quem o faça num só dia, sozinho ou em grupo, mas com bicicletas de estrada convencionais. No meu caso, e como pretendo fazê-lo em bicicleta sem velocidades e com carreto fixo, é mais sensato dividir a coisa em dois dias. São mais de 200 quilómetros com diferenças consideráveis ao nível da altimetria que terão de ser pedalados na íntegra e sem possibilidade de desmultiplicação. O carreto fixo a isso obriga.
Como já disse em outros desafios aos comandos da minha Globe Roll 01, a bicicleta escolhida, mais do que a preparação física, que nem sequer abunda, o essencial é ter disponibilidade mental para o efeito. E essa, com o meu gosto e motivação associados, atenua sobremaneira as dificuldades apresentadas.
Descontraído, mas não leviano, a minha postura é ir saboreando o percurso sem pensar muito no destino. Levar as coisas minimamente delineadas e estar preparado para possíveis imprevistos sem centrar neles o meu foco. Sem pressa, sem tensão, com alegria. Um fim de semana de terapia.

18.09.22

Afirmação do carreto fixo!

Gloria Magenta


Rui Pereira

A Gloria Magenta é a escolhida para as minhas voltas diárias na altura de bom tempo. Gostava de a utilizar durante todo o ano, mas considerando a “agressividade” ambiental dos locais onde me desloco e onde ela fica, só o faço sazonalmente. Componentes de metal de baixa qualidade e o mar mesmo ali ao lado…

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Com a "companheira" BMX - Forte de São Brás, Ponta Delgada.


Esta bicicleta de carreto fixo é uma excelente companheira de deslocações. Simples e estilosa. Mas as coisas vão muito para além destes atributos. Aos seus comandos imagino ser outra pessoa, ter outra ocupação, ter outra vida. Ser, ter e fazer aquilo que realmente queria!
É com esta bicicleta na estrada que melhor emano energia e imagem. É nela que mais gosto de me ver e que mais gosto que me vejam. E o facto de ela ser minimalista, vistosa, diferente e radical não é coincidência.

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A descontrair depois de um dia de trabalho - Parque Urbano de Ponta Delgada.


Esta, especificamente, ou outra qualquer das minhas bicicletas de carreto fixo integram-se perfeitamente nesta idealização. Uma atividade criativa ou a minha própria loja de bicicletas e skates. Um espaço de comércio, mas também de exposição, convívio e partilha. Eventos para as comunidades em causa. Música. Deslocações maioritariamente a pedais e a pé...
Sou um adepto confesso do conceito carreto fixo, algo facilmente percetível neste espaço, mas o que gostaria de transmitir é que não é apenas para ser (parecer) radical ou hispter, mas porque a ligação com a bicicleta e as sensações aos seus comandos são únicas. É uma questão de identificação.

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Com o novo avanço de 35mm para minimizar os efeitos do seu enorme quadro.

 

23.06.21

Furnas Fixed-Gear


Rui Pereira

As limitações físicas contam, mas as psicológicas determinam.
Assim, fazer uma distância considerável, muito sobe e desce pelo meio, com uma bicicleta de carreto fixo, depende essencialmente das segundas, logo que as primeiras estejam minimamente controladas.

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O que me fez levantar cedo no último domingo foi essencialmente a minha disponibilidade (mental) para pegar na bicicleta (de carreto fixo), atravessar a Ilha para sul, seguir em direção às Furnas e voltar via norte. Não foi pela minha condição física, nem pelas condições gerais ideais (meteorológicas, etc.) para fazê-lo. Aliás, como se sabe, esperar pelas condições ideais para fazer alguma coisa é quase o mesmo do que não fazer.
Sabia que tinha umas boas horas de pedalada pela frente, até porque o percurso não era uma novidade. Já a bicicleta… aí comecei a considerar as dificuldades. O tempo de execução, a influência do vento, a presença do calor. O tempo efetivo de pedalada, porque aqui só se para de pedalar parando a bicicleta. Mas, ao mesmo tempo, tentei não ficar demasiado ansioso com isso e, simplesmente, desfrutar.
Sim, é possível desfrutar sozinho e perante tal “empreitada”, quando existe disponibilidade, empenho, descontração e muito gosto à mistura!
Perante as subidas ansiei pelas descidas e perante as descidas exatamente o contrário. O cenário mais apropriado à máquina – plano, por aqui, não abunda!

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Fui gerindo pedalada a pedalada. Foi difícil, mas tão satisfatório. E os meus pensamentos deambularam entre querer chegar a casa (o mais depressa possível) e o não querer que o percurso acabasse...

27.05.21

Caldeira Velha!


Rui Pereira

Semanas a matutar…
O dia tardava em chegar.
Tirei a fixie do suporte, mesmo achando que não seria desta.
O tempo estava desagradável, com um vento pouco favorável.
Fui andando…
Espreitei lá para cima - nevoeiro!
No momento em que cruzei o acesso, decidi.
A inspiração vinha dos eventos Azores Fixed, mas agora estava por minha conta.
Prossegui a custo, mas controlando. Gerindo o esforço. Com calma.
O objetivo seria alcançar aquele que tracei como o meu primeiro patamar.
Alcançado!
Continuei, mas hesitei logo a seguir, quando pensei no nevoeiro, no vento e na descida.
A descida!
Com uma bicicleta “normal” até seria espetacular, depois do esforço.
A descida com a fixie?!
Dei meia volta, parei para a fotografia e comecei a descer.
Fiz tudo para contrariar o movimento natural dos pedais.
Agarrei o guiador, o melhor que podia, para controlar a bicicleta.
Doseei o único travão disponível.
Dores nos tríceps e nos ombros...
E uma rotação demasiado elevada das pernas que me lembrava a existência dos joelhos.
Já cá em baixo - pensei que fosse pior!
Existem outros patamares...
E mais dias!

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