08.02.22
Demasiadas bicicletas
Rui Pereira
Já escrevi duas frases e apaguei-as de seguida. Com os dedos das mãos suspensos sobre o teclado, olho para uma folha em branco no ecrã...
Obrigo-me a tentar. Agarro-me aos impulsos positivos para dar a volta. Na prática, os resultados não são os esperados. Em tempos, momentos mais pesados serviram de base à iniciativa e à criatividade. Agora não. Bloqueiam-me e impedem-me de andar para a frente. Os pequenos passos numa tentativa de mudança revelam-se insuficientes e acabam por me minar ainda mais. É o trabalho a que me acomodei. É o “covid” de que não me livrei, mesmo abdicando de tanta coisa em seu nome. É a minha vida que foi para onde não queria…
As bicicletas estão paradas. Nunca tive tanta bicicleta e nunca estiveram tão paradas como agora. Nem me apetece andar de volta delas. Procrastino projetos à espera de conclusão, outros nem chegaram a começar. Obrigo-me a tentar. Pelo menos gosto de as observar, quando não estou a pensar que são demasiadas bicicletas. Inerte.
Muito pouco sumo espremendo 46 anos de retrospetiva...