Na sequência da publicação Ao cuidado dos senhores "ciclistas" da Pequeno caso sério, escrevi o seguinte comentário:
A melhor de forma de perceber a implementação destas medidas é pegar numa bicicleta e ir com ela para a estrada. Quando de repente sentir uma caixa sobre rodas, com mais de uma tonelada e embalada a velocidade considerável, passar a centímetros do cotovelo, tudo fica mais claro…
As leis existem para minimizar estas situações e fazer com que os automobilistas, na presença de uma ou mais bicicletas, procedam à manobra de ultrapassagem à semelhança do que fazem na presença de outro automóvel, em vez de forçar a passagem.
Por outro lado, sou o primeiro a criticar o comportamento abusivo de certos ciclistas, que fazem questão de impor a sua presença e a lei que os defende à força. Sei que posso circular a par, em certas e determinadas situações*, mas se posso facilitar a passagem dos automóveis faço-o, até porque também sou automobilista e percebo os constrangimentos…
* ("Os velocípedes podem circular paralelamente numa via, exceto em vias com reduzida visibilidade ou sempre que exista intensidade de trânsito, desde que não circulem em paralelo mais que dois velocípedes e tal não cause perigo ou embaraço ao trânsito." - Ponto 2 do Artigo 90.º do Código da Estrada)
De facto, existe uma diferença muito grande entre um automóvel e uma bicicleta. Seja pelo seu impacto físico, pelas velocidades atingidas, como pela sua capacidade de provocar danos. Uma bicicleta é um veículo muito menos impactante e muito mais vulnerável, é indiscutível. Portanto, é normal que não lhe sejam imputadas as mesmas exigências. Num "frente a frente" não será difícil identificar o elo mais fraco, pois não?
Recomenda-se outra atitude na sua presença, mais cuidada e tolerante. Mas isso não legitima comportamentos impróprios daqueles que estão aos seus comandos, porque se é pretendida outra atenção, também é preciso ser, ou pelo menos tentar ser, exemplar a esse nível.
Mais uma vez o meu apelo vai no sentido do bom-senso e da cortesia de ambas as partes. Por exemplo, se fica bem a um automobilista ceder passagem a um ciclista num cruzamento, também fica bem a um ciclista sair da formação de par para facilitar a passagem de um automobilista.
Ontem um automobilista cedeu-me gentilmente a passagem, sabendo de antemão que eu ia ficar à sua frente numa via em que não seria fácil ultrapassar-me. Hoje cedi passagem a um automobilista, sabendo que o seu automóvel ia engrossar ainda mais a fila que tinha pela frente.
É tudo uma questão de nos colocarmos no lugar dos outros!