13.01.17
Bicicleta = Oportunidade!
Rui Pereira
As bicicletas têm sido um tema muito em voga ultimamente e pelas piores razões. Têm andado no centro de uma discussão que nem sequer deveria existir.
Começou em 2014 com a última revisão do Código de Estrada e ganhou novo alento recentemente com uma questão presente no documento da ANSR - PENSE2020 – onde se propõe estudar a obrigatoriedade de uso do capacete pelos utilizadores das bicicletas!
Não quero falar sobre capacetes, mas fica já a minha opinião sobre o seu uso obrigatório – Não, obrigado!
O facto, é que a discussão se acende, as posições extremam-se e, não tarda nada, passamos a ser vistos como os grandes inimigos na circulação viária! O que é curioso, quando um dos pontos chave da revisão do C.E. em 2014 foi a introdução do conceito de utilizador vulnerável das vias públicas, atribuído aos peões e aos utilizadores das bicicletas!
Integrar os utilizadores das bicicletas no grupo dos “vulneráveis” não foi nenhum direito atribuído, foi apenas a inclusão num grupo a que realmente pertencem! É aquilo que são! Pouco impacto físico, velocidade reduzida, pouca capacidade destrutiva!
E o que foi que muitos defensores do automóvel se lembraram?
Que se calhar era boa ideia retrocedermos uns bons anos de evolução e equilibrar estes fantásticos direitos, entregues assim de mão beijada, com alguns deveres. Entre eles: Capacete obrigatório; seguro obrigatório; registo de propriedade e matrícula!
Sentiram-se tão ameaçados que começaram a disparar em todas as direções, quando o que se pedia (e pede) da sua parte é que apenas tenham em conta que existem outros utilizadores das vias, mais sujeitos do que quem está dentro de um veículo automóvel, e que convém ter mais atenção e alguma paciência com eles. O que na prática significa respeitar os limites de velocidade, distâncias e prioridades. Nada de extraordinário.
E porque é que se foram lembrar assim de repente das bicicletas?
Não foi assim de repente. Os sinais chegam-nos de toda a parte. O modelo de mobilidade rodoviária presente das nossas cidades está obsoleto e não é sustentável. Não é sustentável como modelo de circulação, nem é sustentável ao nível ambiental. Escusado se exigir mais e melhores estradas, mais estacionamentos, mais facilidades para a circulação automóvel, porque é apenas uma questão de tempo (algumas vezes muito pouco!) até estar tudo na mesma outra vez. Mais automóveis virão sempre, e com eles, congestionamento e a degradação da qualidade de vida e do ambiente!
Já repararam no tempo que se perde diariamente em filas de trânsito?
Já reparam no stress e na irritabilidade que se ganha?
Já repararam na qualidade do ar que se respira nas cidades?
Acham mesmo que é algo necessário e inevitável?
Por quando tempo acham que podemos aguentar algo que grita ser insustentável?
É por isso que surge uma visão renovada da bicicleta, que a encara como um meio de transporte simples e eficaz, e que pode muito bem fazer parte da solução deste problema! Aliás, como o demonstram, há muito tempo, diversos países do Norte da Europa, por exemplo. É por isso que se alterou legislação dando-lhes espaço nas vias, é por isso que se está a criar estruturas que facilitem a sua circulação, é por isso que não faz sentido estar a impor os embaraços sugeridos, e que pelo contrário se incentive e motive a sua utilização da forma mais livre e natural possível!
Para quem não tem outra perspetiva de mobilidade, para além da que assenta no automóvel e no comodismo (modelo vigente), e faz a sua vida depender disso, é normal que encare a partilha das vias de circulação com as bicicletas como algo negativo e dificilmente compreenderá como, atualmente, a bicicleta tenha adquirido o estatuto de oportunidade única, ao nível da mobilidade, da saúde, da qualidade de vida e do ambiente!