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Bike Azores

A experimentar o verdadeiro sentido da palavra liberdade!

08.11.22

SMG FIXED - “Despe-te que Suas”

Volta à Ilha de São Miguel em Bicicleta de Carreto Fixo


Rui Pereira

Progredia no percurso. Os desníveis não permitiam fazê-lo de forma tão calma como pretendia. Nas subidas mais ingremes tinha de erguer-me do selim e pedalar com convicção. Nas descidas tinha de agarrar o guiador, dosear o travão dianteiro e usar as pernas como se fossem o travão traseiro para conter a rotação dos pedais. Estava mais ou menos a meio do segundo dia e os quilómetros acumulados faziam-se sentir.
Em certa zona da costa norte da ilha, com as suas freguesias, o trajeto parece estar sempre a repetir-se. Numa das habituais descidas, que terminam em pontes seguidas de subidas, percebi que era especialmente longa e acentuada. Olhei para a minha direita para tentar vislumbrar o que me esperava. Sim, era uma subida… equivalente à descida, claro.
Mais palavrão menos palavrão, calquei os pedais a ritmo lento, erguido, com os olhos no chão. Senti o peso nas pernas, a pulsação a disparar e a respiração ofegante cada vez mais audível. Veio-me à cabeça um sábio conselho que tinha recebido uns dias antes:
”… e saber que, se for preciso ir a pé com a bike pela mão, também é válido. O importante é curtir a viagem!”
Se calhar é o melhor que tenho a fazer – pensei.
Progredi mais uns metros e já via umas curvas lá no topo que com certeza fechavam esta sinuosa subida. Parei. Atravessado na faixa fiquei de frente para uma espécie de vale fundo com frondosa vegetação. Uma zona de clareira que permitia ver a descida do outro lado. E o muro baixo que me separava daquele cenário fez-me tomar consciência das consequências de um possível descuido. Até agarrei o guiador com mais força. Posicionado entre este e o selim, com o sapato direito encaixado no pedal e o esquerdo no chão, aproveitei para “acalmar” um pouco e ponderar o que fazer.
Continuar ou desmontar?
Olhei para cima e depois para baixo... deixei a bicicleta deslizar, montei o selim e encaixei o sapato. Ganhei balanço e virei para cima decidido.
Sabia que estava no Nordeste, mas não exatamente onde, até que vi uma placa indicativa de um miradouro… “Despe-te que Suas”.

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Captura da história que fiz para o instagram no momento, ainda a tentar que o coração não me saísse pela boca!

 

04.11.22

SMG FIXED - De mochila às costas

Volta à Ilha de São Miguel em Bicicleta de Carreto Fixo


Rui Pereira

A primeira coisa que fiz quando tive a ideia da volta à ilha foi fazer uma lista de necessidades. Daquelas à antiga numa folha de papel escrita a esferográfica. Para além daquilo que precisaria, desta folha acabou por constar indicação dos trajetos e possibilidades de alojamento. Ora esquecida, ora mais presente, esta folha era a materialização do compromisso, como que a dizer - olha amigo, tens isso aqui para fazer. Não te faças de distraído!
A lista inicial cresceu, mas nada de muito significativo. Um dos meus princípios era manter as coisas simples. Aliás, como se nota pela escolha da bicicleta. Se há bicicleta simples e minimalista… Se o seu minimalismo me facilitou a vida, já é outra história.
Também não queria facilidades. Daí ter levado a minha “bagageira” às costas.
Sim, tomar banho, dormir e ter um pequeno-almoço continental num hotel, mas de mochila às costas em autonomia. E sim, nem mesmo o meu princípio da simplicidade me impediu de a encher com algumas coisas que se revelaram perfeitamente dispensáveis.

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Nem foi preciso pedir se me podia guardar a mochila.

 

31.10.22

SMG FIXED - Nutrido e hidratado

Volta à Ilha de São Miguel em Bicicleta de Carreto Fixo


Rui Pereira

Os níveis de exigência que algumas coisas atingem hoje em dia enervam-me um bocado. Existe uma tendência natural para complicar o que nem sempre é assim tão complicado. Acontece nas bicicletas. Com as próprias, com o equipamento pessoal, com os aparelhos de medida e localização, com o treino e a alimentação. Se no meio competitivo profissional nada disso será novidade, cada vez mais existem semelhanças entre este e o lúdico/amador. Cada um é livre de agir como achar melhor, mas pessoalmente acho que se cai facilmente no exagero, sobredimensionando necessidades.

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Para além do almoço no primeiro dia em Ponta Delgada, foram garantidos bons pequenos-almoços em ambos os dias. 

 

Por outro lado, não posso negar que alguns cuidados podem fazer diferença. E falo concretamente da hidratação e da nutrição em voltas de bicicleta de maior dimensão, como aconteceu recentemente com a minha volta à ilha. Não que tivesse extremado as coisas para níveis despropositados, mas muni-me de duas caixas de barras, uma de energéticas outra de proteicas e, basicamente, ingeri uma a cada hora intercaladamente. O facto, é que nunca senti uma fatiga acentuada como já aconteceu noutras situações, inclusive menos exigentes. Claro que existem outros parâmetros com influência neste campo, como a intensidade do ritmo e a ansiedade, mas consigo perceber que este cuidado foi decisivo para a minha integridade física. Para além das barras, no primeiro dia - o mais longo, fiz uma refeição sentado à mesa e com “comida a sério”.

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A atestar a garrafa na freguesia de Água de Pau. 

 

A fixed-gear não possui furações para montar um suporte de garrafa, portanto, tive de a transportar na mochila. Levei uma única garrafa, mas a hidratação não foi descurada, até porque tinha presente todos os pontos de reabastecimento de água ao longo do percurso. Se no primeiro dia este foi garantido, no segundo, tive de pedir para me encherem a garrafa num café e junto a uma pessoa que lavava o carro à porta de casa, a nível extraordinário.

27.10.22

Volta à ilha no SAPO Viagens

SMG FIXED - Volta à Ilha de São Miguel em Bicicleta de Carreto Fixo


Rui Pereira

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É com muito gosto que vejo publicado um bilhete-postal no  SAPO VIAGENS .
Um “trabalho” colaborativo que sempre encarei como reconhecimento.
O retrato de um evento muito significativo, que ganhou ainda mais relevância com este destaque.
Não serei a melhor pessoa para dizê-lo, mas acho que o resultado final é muito bom.
Obrigado.

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(Clicar nas imagens para aceder)

26.10.22

Volta à ilha no Azores Fixed

SMG FIXED - Volta à Ilha de São Miguel em Bicicleta de Carreto Fixo


Rui Pereira

Estávamos no ano de 2013 e as coisas nunca mais foram como antes...
Foram desbloqueados uma série de limites e preconceitos quando se fizeram à estrada, na ilha de São Miguel, com as suas bicicletas de carreto fixo (ou preso, como dizem) pela primeira vez.
Por razões mais do que óbvias, existe uma ligação próxima e recíproca entre mim e a turma do Azores Fixed.

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Azores Fixed

21.10.22

"Eh senhor, isso não faltam aí pneus?"

SMG FIXED ’22 - Volta à Ilha de São Miguel em Bicicleta de Carreto Fixo


Rui Pereira

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Hotel do Mar, Vila de Povoação - São Miguel

 

Acabado de chegar à Povoação. Check-in no hotel. Enquanto levava a bicicleta pela mão até à garagem cruzo-me com três funcionárias que me olham curiosas. Cumprimento-as com um “boa tarde”. A mais extrovertida de imediato lança-me uma questão:

Eh senhor, isso não faltam aí pneus?

13.10.22

“O importante é curtir a viagem!”

SMG FIXED ’22 - Volta à Ilha de São Miguel em Bicicleta de Carreto Fixo


Rui Pereira

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A menos de dois dias da volta à ilha, mantenho-me tranquilo.
Depois de no princípio da semana ficar ligeiramente preocupado com as previsões meteorológicas, ciente de que as condições mudam de um dia para outro (para os dois lados). Se há quem esteja habituado a lidar com as agruras do tempo somos nós ilhéus.
A coisa, entretanto, melhorou, o que não quer dizer que não exista a possibilidade de apanhar alguma chuva e vento, mas que não deverá ser nada de muito relevante.
Não me sento no selim desde domingo e só o deverei fazer para ver se a bicicleta está apta. Estará com certeza, até porque à partida só deverá precisar de ar nos pneus.
Estou a apostar na caminhada para manter alguma atividade. Permite-me também ouvir música e distrair.
Ainda hoje falava, entusiasmado, com um amigo que acabou de concluir um Ironman, que, entre as particularidades e desafios prova, me falava no poder da mente para submeter-se a algo tão desafiante.
Não, (ainda?) não vou fazer um Ironman, mas estou mentalmente preparado para esta aventura que me propus fazer.
Recebi também uma outra dica muito importante da parte de quem sabe e é a minha principal fonte de inspiração para tudo o que faça de mais relevante com fixed-gear:

… e saber que, se for preciso ir a pé com a bike pela mão, também é válido. O importante é curtir a viagem!

11.10.22

Parei os pedais…


Rui Pereira

Um dos problemas que costumava ter aos comandos das minhas bicicletas de carreto fixo era esquecer-me que não estava numa bicicleta convencional. Querer ajeitar-me no selim ou esticar as pernas, ou simplesmente parar de pedalar. A reação era instantânea e brusca quanto baste. Tantas vezes que verbalizei para mim próprio – não podes parar de pedalar!
Este domingo fui fazer uns reconhecimentos para os lados do Nordeste e levei a bicicleta de estrada para o efeito. Claro que estes tiveram por base a volta à ilha em bicicleta de carreto fixo, portanto, é normal que estivesse sempre a pensar em carreto fixo. Pela primeira vez dou por mim, numa zona essencialmente plana, mas ligeiramente a descer, sem deixar de pedalar por estar certo que não o podia fazer. Neste caso, verbalizei para mim próprio – nesta podes parar de pedalar! – Parei os pedais e sorri.

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