Years of disappointment And disillusion All I see in the mirror now Is an old man with a heart like a grave
Até ao final deste ano completo 48 anos. Mesmo para mim, que não sou de números, é bastante claro que estou a bater nos 50 não tarda… Visivelmente, mantenho um ar aceitável, com alguma jovialidade e irreverência. Para isso contribuem a minha forma de estar e atitude, as atividades que pratico. A descontração existe, sem dúvida, mas por vezes é aparente. Muitas vezes ensombrada por níveis de preocupação e pessimismo sem sentido. Um lado negro que tento expurgar com mais escuridão, tristeza e melancolia, através da música, em manifesto contrassenso. É a minha aliada. É solidária, coloca-se na minha pele, compreende-me. Rasga comigo as amarras que me prendem, com a força das letras e a agressividade da melodia. São anos de união. De aliança. De resultados. O que não impede que, ocasionalmente, me possa ver como um velho ao espelho…
1999 foi o ano de lançamento do álbum “Host”. Sétimo da carreira dos Paradise Lost. O álbum da polémica e da discórdia, já que a banda inglesa rompe radicalmente com o som que vinha fazendo até então. Na verdade, já o seu antecessor, “One Second”, indicava esta direção. Abundância de eletrónica e teclados que descaraterizavam uma base sonora bastante identificativa, com raízes Doom e essencialmente Gothic. Menos gótico o seu som era agora muito atmosférico. As guitarras perderam peso e foram ofuscadas pelos sintetizadores, e a voz de Nick Holmes era agora completamente “limpa”. O certo é que até a aparência física dos elementos da banda mudou. Fã assumido da banda e do género - Gothic Metal, tendo como álbum favorito “Draconian Times”, 1995 - aquele que considero ser um dos melhores discos de sempre - também me coloquei do lado da oposição. Eh pá não, não queria ver os Paradise Lost a tentar ser os Depeche Mode! Ainda tentei uma ou outra audição, mas a resistência venceu. O facto é que me fui afastando progressivamente deste coletivo. Foi bom, muito bom, mas acabou – pensei eu. Só voltei a fazer as pazes com os Paradise Lost em 2005, com o lançamento do seu décimo álbum homónimo. A partir daí o seu som tem crescido no sentido do regresso às origens. Numa onda saudosista tenho revisitado o seu passado… “Icon”, “Draconian Times”… Continuo a ficar arrepiado com o seu som e com os absurdamente melódicos riffs de Gregor Mackintosh, o principal guitarrista e compositor da banda. Num desses regressos ao passado dei de caras com o tema “Nothing Sacred” do álbum “Host” e senti-me injusto e preconceituoso. O que é isso? Que tema! Pronto, as guitarras estão um pouco escondidas e têm uma distorção meia estranha, mas a linha de teclados que marca toda a faixa, adornada por apontamentos eletrónicos, é absolutamente incrível. Um tema que nos embala e leva tranquilamente através de ambiências atmosféricas e melódicas exemplarmente conseguidas. Estava cego e surdo quando há 24 anos não consegui reconhecer isso. Nunca é tarde. Justiça seja feita!
Custa-me sempre um pouco falar sobre música. Não que não goste, porque gosto muito, mas no sentido em que me falta a teoria e o lado prático de músico que não sou. Daí normalmente enveredo pelo lado da emoção e do sentimento. E a música desperta-me bastante neste departamento. Outra coisa que me faz alguma confusão é como certas bandas, canções e álbuns me passam completamente ao lado. E falo de géneros mais específicos, dos quais tenho algum conhecimento, mas não deixa de ser um disparate com a quantidade de música que se faz por aí.
O primeiro tema que ouvi. Que incrível balada!
Descobri recentemente os SOEN, numa lista aleatória sugerida pelo YouTube Music. Por falar nisso, fico assustado com a quantidade de horas de audição que tenho nesta aplicação. Mas pronto, é outra conversa. E já ando a preparar-me para o facto de vir a perder audição progressiva e precocemente. É que o Metal, o género que mais ouço, é para ser ouvido com o volume tendencialmente elevado! Mas voltemos aos SOEN e, particularmente, ao seu mais recente álbum “Memorial”. Então esta banda anda a fazer música desde 2012 e nunca sequer ouvi falar dela?! Nunca é tarde. Que som. Que melodia. Cativante!
Um hino… outro!
Um consistente e poderoso instrumental, e uma excelente voz limpa. Este coletivo da Suécia é virtuoso quanto baste. São vários temas que se destacam, mas “Memorial” é um álbum inteiro, sem grandes altos e baixos. Embora a minha audição se tenha concentrado bastante neste disco, o facto é que tenho ouvido transversalmente toda a sua discografia, tal é o interesse e curiosidade que esta banda despertou.
O competente tema de abertura do álbum “Imperial”
Normalmente são apresentados com a etiqueta de Metal Progressivo. Não sei, talvez. É irrelevante. Certo é que fiquei, ainda estou, viciado no som dos SOEN. No equilíbrio entre agressividade e melodia, nas letras tocantes, nos solos de guitarra, na forma como os refrões ficam no ouvido, nos arrepios que sinto. E quando não estou a ouvir as canções, dou por mim a entoá-las baixinho, esteja onde estiver e a fazer o que for…
Há coisas que nunca mudam, independentemente das circunstâncias. Podem estar mais próximas ou afastadas, mas estão lá. À minha espera, sempre prontas. Sem alaridos. Nem preconceitos ou constrangimentos. As minhas fiéis companheiras ajudam-me muito. Na manutenção da mente e do corpo. Na diversão e no desafio. Na curiosidade e na apreciação. No sentido estético e prático. Na jovialidade do espírito.
Saí meio tarde. Com o aproximar da hora e a falta de lugar para estacionar comecei a stressar. Mas porque é que não fui de vez para o parque? - perguntava a mim mesmo enquanto me dirigia para lá. Apressei o passo e ainda corri. Nem valia a pena, mas pronto. Que necessidade, não volta a acontecer. Até à próxima vez! Estava sentado, já podia relaxar. Os panos ainda não tinham aberto e já algo se revelava… Vozes, coro, eletrónica! Entretanto apercebi-me que o meu bilhete mais barato não era por acaso. Via um grande ecrã, a vocalista e pouco mais. Enquanto à minha volta os outros espetadores falavam entre si e trocavam de lugar, mantive-me quieto. Não ia interromper a vibração em que alinhara. Podia ter visibilidade limitada para o palco, mas deixei-me levar pela onda sonora magistralmente produzida. Imperturbável. Até podiam tapar-me os olhos. Sim, podia estar de olhos fechados, muito provavelmente ainda ia sentir melhor. Foi sábado. Foi… The Gift.
Os INSOMNIUM são uma das bandas mais presentes na minha vida nos últimos tempos. A música é essencial ao meu bem-estar, mesmo que reflita escuridão, tristeza e toda uma carga negativa, elevadas por instrumentos tocados de forma extrema, na companhia de vozes vociferadas que debitam palavras carregadas de dor. Tudo harmonicamente embalado com a dose certa de melodia! O Metal é companhia e volume que me preenche. É paz interior. É catarse. Assim é a música dos INSOMNIUM. Cada canção… um Hino! O mais puro e fino “Melodic Death Metal” oriundo do norte da Europa (Finlândia).
Volta à Ilha de São Miguel em Bicicleta de Carreto Fixo
Rui Pereira
E lá estava eu, sozinho, em cima da bicicleta, de mochila às costas, a contemplar o silêncio e os verdes que ladeavam a estrada, com um misto de sentimentos que não é inédito… querer chegar ao fim e, ao mesmo tempo, não querer que acabasse.