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Bike Azores

A experimentar o verdadeiro sentido da palavra liberdade!

31.10.23

Mais um passeio de domingo


Rui Pereira

Trago a bicicleta para fora e começo por atestar os pneus com ar. Têm pouquíssima pressão, reflexo do tempo que não ando nela.
Observo-a. Não da forma cirúrgica e quase obsessiva como fazia noutros tempos. A sujidade acumulada é significativa, mesmo num olhar de relance.
Reparo na oxidação que se apoderou de alguns componentes. A oxidação para componentes metálicos mais sensíveis é como as ervas daninhas para um jardim. Por mais que se ande em cima aparece sempre.
Aqui atrás dizia que haviam coisas que nunca mudavam. Mas também há as que já não são a mesma coisa. Antes, dificilmente andaria numa bicicleta assim. O facto, é que não gosto de a ver e ter neste estado.

roubaix_mar.jpg


Bom, prosseguindo…
Puxo o meu banco de madeira e calço os sapatos de encaixe. Os encaixes acoplados estão tão estragados. Mas continuam funcionais, que é o principal. Das borrachas que ajudam na aderência a caminhar já só existem vestígios e ainda no outro dia caí na pump track à conta disso.
Na verdade, foi mais à conta de uma cabeça esperta que decide arrancar a meio da pista mesmo antes da lomba mais inclinada, achando que era uma boa ideia. E lá foi o suporte da cabeça esperta forrado a licra (vulgarmente conhecido como corpo) e o carbono da Roubaix experimentar a textura do asfalto.
Soltei um palavrão, levantei-me e rapidamente olhei em meu redor. Ninguém. Vá lá!
Só depois analisei os estragos em mim e nela. Nada de especial, para a dimensão da burrice.

roubaix_pumptrack.jpg


Lá fui pedalando. Ora por aqui ora por ali. Tempo fresco. Dei por mim a pensar - mesmo assim estou bem, para o tempo que não pedalo. É certo que pedalo praticamente todos os dias, mas distâncias substancialmente mais curtas.
Sem compromissos, só tive de me deixar levar. É que já nem o relógio dita regras. Ah, por falar em relógio, nem me apercebi que a hora tinha mudado!

roubaix_streetart.jpg


Já disse isso umas 50 vezes… custa-me sair, estou sempre a inventar coisas, mas depois de estar a pedalar já não quero parar. O que só acontece quando surgem pensamentos acerca de comida e por aí.
Tirei algumas fotografias. Fiz um Reel no Instagram.
Foi apenas mais um passeio de domingo.

28.09.22

A vida às partes


Rui Pereira

Sempre me levei muito a sério.
Preocupado com a minha reputação, com a opinião dos outros sobre mim e com o defraudar da mesma.
Era meu objetivo manter a imagem séria, compenetrada, cuidada e racional. E então sempre apliquei muitos filtros, quer na escrita quer nas imagens partilhadas. Embora esta atenção também se justificasse com sentido estético e privacidade e aquela maniazinha da perfeição.
Falo no passado, mas o certo é que ainda tenho esta preocupação. Embora tenha a noção de que a necessidade de parecer sempre bem e certo não é saudável. Nem sequer natural e verdadeira.
Não é mentira, mas é uma parte da minha vida, não é a minha vida!
Tenho tentado descontrair. Não tenho de parecer ser mais inteligente, esperto e bonito do que realmente sou. Não tenho de ter as maiores habilidades com as palavras, nem com a câmara fotográfica do telemóvel.
Não será sinónimo de desmazelo e aleatoriedade partilhar algo menos estético ou filtrado, parvo ou ridículo. Nem sempre faço coisas relevantes. Existem coisas que simplesmente acontecem e são uma parte considerável da minha vida.
Não tenho de me levar tão a sério!

roubaix_e_eu.jpg
Apanhado a limpar as pernas com os peúgos, à porta da garagem, depois da volta de bicicleta.
Aconteceu. Faz parte. (Não era suposto partilhar esta imagem)

16.02.22

Regresso!


Rui Pereira

Tive bastante tempo ausente das minhas voltas de bicicleta. Tanto que até fiquei sem saber qual delas escolher para efetivar este regresso.
Exclusão de partes. As fixed-gear foram logo postas de lado, demasiado agressivas e exigentes. De estrada não me estava a apetecer. As citadinas/cruiser nunca são opção para as pedaladas de domingo, mesmo que estas fossem previsivelmente mais tranquilas.
Entretanto, um amigo partilha umas imagens da preparação da sua mota para uma prova de TT…

specialized_btt.jpg

BTT. Mais suave, descontraída e polivalente. E ainda podia ir perceber o ambiente da corrida de motas sem problemas.
Sempre que pego nesta bicicleta é a mesma coisa. Identifico-me e sinto-me muito bem. De facto, o fora-de-estrada é algo que me marcou de forma muito positiva. Talvez por ser onde comecei ou simplesmente uma tendência natural. Contraditoriamente, pelas circunstâncias atuais, a BTT é aquela que menos uso.
Foi uma volta sem história, mas soube-me bem regressar. Com mais ou menos esforço lá fui. Sinceramente, pensei que me fosse ressentir mais. Ainda consigo lidar com o ficar dorido do selim… todos os males fossem estes!

03.08.21

Lagoa do Fogo Fixed-Gear


Rui Pereira

Os pensamentos conturbados que me assolam a mente, e que me afetam sobremaneira, dizem respeito ao quanto estou insatisfeito com aquilo que faço como atividade profissional.
Não será por acaso que tenho vindo a desafiar-me com eventos pontuais, que pensei nunca ser capaz de fazer e que envolvem a bicicleta de carreto fixo. Há uns tempos fui ao Miradouro da Vista do Rei, mas mais recentemente o arranque deu-se com a ida à Caldeira Velha e a confirmação com uma longa ida às Furnas. Como nos diz a sabedoria popular - “para grandes males, grandes remédios.”
As bicicletas são das minhas principais atividades lúdicas, que permitem repor algum do equilíbrio perdido, mesmo que nem sempre esteja muito certo do que fazer na hora da saída. Protelo para depois arrepender-me...
O facto é que, uma volta, um passeio, uma conquista com as minhas bicicletas, são uma injeção de boa disposição, bem-estar e motivação.

lagoa_fogo2.jpg


Já lá vão duas semanas e desta vez não pude protelar, porque comprometi-me de véspera. O António, companheiro de pedaladas de outros tempos, ia comigo…
Subir à Lagoa do Fogo com a minha bicicleta de carreto fixo!
Ou pelo menos tentar…
Para ser mais preciso, a ideia era subir (e descer!) a Serra da Barrosa pelo lado Norte, sendo que o pormenor do carreto fixo na equação faria toda a diferença. Daí a referência ao descer, quando para as outras bicicletas, dependendo do à vontade do ciclista, acaba por ser só diversão, aqui não é bem assim.
Posso já referir que estava tão satisfeito por ter chegado mesmo lá acima, ao Miradouro da Barrosa, que até me "esqueci" de sofrer na descida!
Também já tinha tido a minha dose.

lagoa_fogo3.jpg


Iniciamos a subida à hora combinada e, entre outros assuntos, as bicicletas e a cultura do carreto fixo foram obviamente temas obrigatórios.
Confesso que a presença, a atitude e a disponibilidade do António foram decisivas para tornar este desafio mais suave e fácil de superar, não podendo deixar de lhe agradecer por isso mesmo.
A salutar troca de palavras interrompida pela minha respiração ofegante era sinal de maior dificuldade do percurso. Aconteceu várias vezes. Sendo que lá no topo as palavras deixaram de ser proferidas, pelo menos da minha parte.
Mas estava decidido e comprometido. Logo eu que faço questão de distinguir desafios de sacrifícios e de não estar muito disponível para os segundos. Inconscientemente, acabei por ir contra mim próprio e contra as minhas limitações físicas, só porque sim. Porque meti na cabeça que tinha de fazer isso!

lagoa_fogo1.jpg

 

23.06.21

Furnas Fixed-Gear


Rui Pereira

As limitações físicas contam, mas as psicológicas determinam.
Assim, fazer uma distância considerável, muito sobe e desce pelo meio, com uma bicicleta de carreto fixo, depende essencialmente das segundas, logo que as primeiras estejam minimamente controladas.

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O que me fez levantar cedo no último domingo foi essencialmente a minha disponibilidade (mental) para pegar na bicicleta (de carreto fixo), atravessar a Ilha para sul, seguir em direção às Furnas e voltar via norte. Não foi pela minha condição física, nem pelas condições gerais ideais (meteorológicas, etc.) para fazê-lo. Aliás, como se sabe, esperar pelas condições ideais para fazer alguma coisa é quase o mesmo do que não fazer.
Sabia que tinha umas boas horas de pedalada pela frente, até porque o percurso não era uma novidade. Já a bicicleta… aí comecei a considerar as dificuldades. O tempo de execução, a influência do vento, a presença do calor. O tempo efetivo de pedalada, porque aqui só se para de pedalar parando a bicicleta. Mas, ao mesmo tempo, tentei não ficar demasiado ansioso com isso e, simplesmente, desfrutar.
Sim, é possível desfrutar sozinho e perante tal “empreitada”, quando existe disponibilidade, empenho, descontração e muito gosto à mistura!
Perante as subidas ansiei pelas descidas e perante as descidas exatamente o contrário. O cenário mais apropriado à máquina – plano, por aqui, não abunda!

furnas2.jpg


Fui gerindo pedalada a pedalada. Foi difícil, mas tão satisfatório. E os meus pensamentos deambularam entre querer chegar a casa (o mais depressa possível) e o não querer que o percurso acabasse...

27.05.21

Caldeira Velha!


Rui Pereira

Semanas a matutar…
O dia tardava em chegar.
Tirei a fixie do suporte, mesmo achando que não seria desta.
O tempo estava desagradável, com um vento pouco favorável.
Fui andando…
Espreitei lá para cima - nevoeiro!
No momento em que cruzei o acesso, decidi.
A inspiração vinha dos eventos Azores Fixed, mas agora estava por minha conta.
Prossegui a custo, mas controlando. Gerindo o esforço. Com calma.
O objetivo seria alcançar aquele que tracei como o meu primeiro patamar.
Alcançado!
Continuei, mas hesitei logo a seguir, quando pensei no nevoeiro, no vento e na descida.
A descida!
Com uma bicicleta “normal” até seria espetacular, depois do esforço.
A descida com a fixie?!
Dei meia volta, parei para a fotografia e comecei a descer.
Fiz tudo para contrariar o movimento natural dos pedais.
Agarrei o guiador, o melhor que podia, para controlar a bicicleta.
Doseei o único travão disponível.
Dores nos tríceps e nos ombros...
E uma rotação demasiado elevada das pernas que me lembrava a existência dos joelhos.
Já cá em baixo - pensei que fosse pior!
Existem outros patamares...
E mais dias!

globe_caldeiravelha.jpg

 

30.04.21

Explicação


Rui Pereira

Saio tarde e não determinado. A progressão no terreno faz-se lenta e de improviso. Apreensivo por natureza, o entusiasmo surge progressivamente, à razão com que passo por locais entretanto esquecidos. Boas memórias me trazem. As pedaladas misturam antagonismos – fluidez e tensão. O foco no que está para vir não me impede de usufruir. O trilho único, visivelmente marcado por uma roda motorizada, está perfeito. A vegetação domina sem se intrometer. O piso apresenta-se suave e aderente sem estar pesado, fluído e divertido sem ser muito rápido. Cheguei, voltei para trás, avancei novamente. Incrível. Como gostava de ter alguém comigo para partilhar este momento. Alguém que experimentasse e sentisse o mesmo que eu. Alguém que compreendesse o prazer de pedalar nestas circunstâncias. Existe uma frase aplicada ao mundo motorizado que diz não valer a pena explicar aos outros a razão de andar de mota, pois para quem compreende nenhuma explicação é necessária, para quem não compreende nenhuma explicação é possível. Aqui, também se aplica.


fsrxc_singletrack.jpg

 

10.11.20

Recordar


Rui Pereira

Foi no dia em que a fui buscar que senti logo a exigência e a minha falta de preparação. Quando voltei às bicicletas há 12 anos atrás, arranquei da loja montado com destino a casa. Cerca de 15km, sendo boa parte deles pouco favoráveis ao nível da inclinação. Custou-me, mas foi um relembrar de outros tempos, uma formação prática e intensiva da bicicleta e do seu uso.
O primeiro passeio em grupo também serviu para fazer algumas aferições. Destreza e técnica: assim-assim; forma física: baixa. Mas lá fui com as minhas dificuldades. Foi também importante para voltar a sentir aquele gostinho pelo fora-de-estrada, entretanto adormecido, e conhecer alguns trajetos que repetiria por diversas vezes, tal era o prazer proporcionado.
Outros passeios em grupo vieram, entre família, amigos e colegas, mas os que recordo com mais saudades são em dupla, eu e o meu tio. Grandes manhãs, grandes pedaladas. Com o tempo vieram as evoluções, quer ao nível das bicicletas, quer do à vontade com que encarávamos as dificuldades físicas e técnicas. E claro, do prazer que tirávamos destas mesmas pedaladas.
Nunca ouvi uma queixa da sua boca. Um dia, disse-me satisfeito que fazia aquela descida com cada vez mais confiança e velocidade. Eu sentia o mesmo, fosse nesta descida ou noutro local específico dos nossos percursos habituais. Aliás, via-me a passar nestes mesmos locais em pensamento, tal era o gosto. Contava os dias para chegar ao domingo!
Lembro-me do silêncio, da ausência de palavras. Da descoberta. Do som do vento, do rolar dos pneus sobre terra, pedras e lama… do partir dos galhos à nossa passagem. Do roçar da bicicleta e do corpo na vegetação. Dos sustos. Das travessias de ribeiras. Daquela passagem no limite bem-sucedida. Cada um por si, mas ao mesmo tempo acompanhados.
E lembrei-me disso tudo porque domingo passei numa canada que fizemos tantas vezes. Sonhava com o seu gancho final que fazia em derrapagem e que nos levaria para outra bastante mais exigente e espetacular, onde as condições eram sempre uma incógnita. Então se chovesse de véspera... Já ia ansioso a descer aqueles metros de ligação em betão!

globe_sta_barbara.jpg
Algures em Santa Bárbara, Ribeira Grande 

28.09.20

Alerta amarelo!


Rui Pereira

Fazendo fé nos avisos meteorológicos para domingo, onde os aguaceiros fortes seriam uma possibilidade, desisti da ideia que tinha para a minha tradicional volta semanal. Na verdade, se a intenção fosse posta em prática, tradicional não seria a palavra mais indicada para a descrever. Mas haverão com certeza mais domingos com previsões meteorológicas menos… amarelas.
Peguei noutra bicicleta e segui o rumo que não era suposto. O máximo que apanhei foi o piso pontualmente molhado, nada mais. Assim sendo, a volta receosa acabou por se alongar para além das 3 horas. As mesmas razões que me levaram a optar por uma alternativa improvisada devem justificar o facto de sobrarem dedos de uma mão se contar o número de ciclistas com que me cruzei.
Em conversa com um amigo, chegou-se à conclusão que um dos problemas destes avisos é o resultado poder ser o mesmo da história de "Pedro e o Lobo"… O facto, é que são previsões. E perante indícios, antes assim do que não os fazer e depois acontecerem situações.
Mau mesmo era se não tivesse saído.

roubai_rota.jpg
*Imagem meramente ilustrativa. Não corresponde ao passeio de ontem. A bicicleta sim.