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Bike Azores

A experimentar o verdadeiro sentido da palavra liberdade!

23.11.20

“Ovelha fora do rebanho”

Rui Pereira


Rui Pereira

Somos poucos, mas somos alguns com bicicletas de carreto fixo aqui na ilha. Lembrei-me de fazer algumas questões como forma de dar a conhecer o porquê desta opção, as bicicletas envolvidas, entre outras particularidades associadas. Digamos que é uma espécie de rubrica apelidada de “Ovelha fora do rebanho”, título que resultou diretamente da última pergunta deste mesmo questionário, já que me fez todo o sentido.

E como tinha de começar por alguém, aqui estou eu.

Agora, de repente, começavam todos a dispensar as mudanças nas bicicletas e a andar de carreto fixo…
E começavam todos a gostar mais de quadros em liga de aço do que de carbono…
Hein?! Não vai acontecer!

Como é que tudo começou?
- A partir do momento em que as bicicletas começaram a ser uma prioridade e me voltei para opções mais alternativas, as fixed-gear, ou bicicletas de carreto fixo, passaram a constar das minhas preferências. Fiquei fascinado com elas propriamente, mas também com a cultura e todo o movimento à sua volta. Da vontade de ter à concretização, ainda houve um período considerável de ponderação e amadurecimento da ideia.

Carreto fixo ou roda livre?
- Carreto fixo, claro. As minhas bicicletas têm um cubo de roda que permite as duas possibilidades, mas até já tirei a roda livre de uma delas e só não tirei da outra porque aquilo não quer sair por nada!

Carreto fixo, porquê?
- É uma boa pergunta. E fico sempre com a sensação que por mais que explique nunca consigo transmitir realmente a razão, que na verdade são várias. Pela estética e simplicidade. Pelo conceito único e desafiante. Pela rebeldia e rutura com o que está instituído e é aceite.
Começar a andar com uma bicicleta de carreto fixo é quase como começar a andar de bicicleta. Com o tempo e um processo de aceitação, a sensação de montá-las vai de estranha e difícil a incrível. A ligação homem/máquina é única!

Com ou sem travões?
- Depende. Pela estética, pureza e desafio, e em teoria, sem travões. Na prática e por questões de segurança, tendo em conta o uso que lhes dou e a nossa peculiar orografia, com travão dianteiro.

Número, material e relação de transmissão?
- Tenho duas. A Globe Roll 01 com o quadro em liga de aço e uma transmissão de 42X17, e a Gloria Magenta com o quadro em aço e uma relação de 42X18. Ambas com rodas de alumínio e periféricos banais. São de vocação mais citadina e para zonas mais planas, mas faço muito mais do que isso, pelo menos com uma delas (Globe). Têm transmissões relativamente “amigáveis” nas subidas, mas castigadoras nas descidas, já que os pedais atingem rotações muito elevadas. Sim, porque eles nunca param!

De catálogo ou montadas? De sonho?
- São ambas de catálogo e foram compradas novas. Mas ao contrário da Globe, que não foi sujeita a grandes alterações, a Gloria foi toda desmontada no dia em que chegou a casa e está bem diferente daquilo que era. Por acaso, deu-me muito gozo fazê-lo. E exatamente por isso gostava muito de um dia poder montar uma ao meu gosto, peça a peça. Não tenho muitos sonhos nem os que tenho são muito extravagantes, mas uma RODAGIRA
Das minhas posso revelar uma curiosidade: Considerando os valores de aquisição, o da Globe dava para comprar três Glorias. À vista até podem parecer semelhantes, mas dinamicamente são bem diferentes.

Uma bicicleta de carreto fixo é uma espécie de “ovelha fora do rebanho”?
- Não. Uma bicicleta de carreto fixo é claramente o lobo. A ovelha fora do rebanho sou eu!

25.09.20

“… O que é o carreto?”

“Mas entre andar de e perceber de...”


Rui Pereira

Foi a pergunta da Sara, depois de me "ouvir" falar em bicicletas de carreto fixo, aqui!

- O carreto é a roda dentada acoplada à roda traseira onde se liga a corrente da bicicleta. Neste caso, tratando-se de um carreto fixo, existe apenas um (mudança única) e tem uma ligação direta com a roda. Ou seja, sempre que a roda se mover, movem-se também os pedais, não sendo possível ter os pedais parados com a bicicleta em andamento.
Como deves perceber, este é o sistema de transmissão mais tradicional, exigente e particular, por não ter mudanças e por não ser possível parar de pedalar a não ser parado. ;)
O sistema de transmissão mais usual acaba por ser o de mudanças externas, onde existe uma cassete formada por vários carretos de diferentes dimensões, podendo ter de um a três pratos dentados à frente acoplados no pedaleiro.
(…)
Já agora, o sistema que permite parar de pedalar em andamento, independentemente de haver um ou mais carretos, chama-se roda livre.

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25.09.20

"Efectivamente"

É tão bom!


Rui Pereira

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Partilhar gostos, práticas, hábitos, atitudes.
Identificarmo-nos.
Saber que existe mais alguém que pensa e age como nós.
Haver quem encare as bicicletas como veículos utilitários, como meios de transporte.
Conhecer alguém que vai de bicicleta, seja aonde for, seja como for.
Haver alguém que gosta do mesmo estilo de bicicletas, das mesmas bicicletas.
É tão bom.
Efetivamente!

gloria_mais_ss.jpg


03.09.20

Destino certo!

Carreto fixo


Rui Pereira

Espreitei pela janela enquanto aguardava a minha vez de sair. O céu nublado era favorável à concretização…

Quando se fala em bicicletas sem mudanças e de carreto fixo, o foco normalmente aponta para as suas limitações. O elevado e escusado nível de exigência e o quanto são desadequadas para todos os perfis de percursos que não os planos.

Tirei a Globe Roll1 do suporte e corrigi a pressão dos pneus. Na verdade, e excecionalmente, a correção foi para além dos valores recomendados…

A ideia geral é que até são bicicletas bonitas e chamam a atenção pela diferença, mas que na realidade não passam de um capricho inútil de algum hipster que, 1) não deve saber o que é uma bicicleta "a sério"; 2) quer apenas dar nas vistas!

Ataquei quatro fatias de pão com manteiga de amendoim que empurrei com um copo grande de café com leite. Finalizei com uma peça de fruta…

Os preconceitos existentes partem dos próprios proprietários - falo por mim. Pensei e acabei por comprar. Pensei que se calhar não devia ter comprado, que não era para mim. Tive-a com roda-livre. Pensei que nunca mais conseguiria fazer skids. Pensei que nunca poderia ir com ela ali ou acolá, que para isso tinha as outras.

Comecei a traçar mentalmente qual a rota a seguir…

Esquecia-me que não podia parar de pedalar. Ela não perdoava. Hoje, acontece muito pouco. Comecei a sair mais. Comecei a sentir mais. As coisas foram fluindo naturalmente. Hoje saio com elas como se fossem qualquer uma das minhas outras bicicletas. Não devem ser subestimadas, mas são bicicletas. Diferentes é certo, mas bicicletas. E válidas!

Recebi o testemunho e, portanto, tinha luz verde para avançar. Reforcei a hidratação…

E as bicicletas são para serem pedaladas. Estas pedaladas podem ser mais ou menos condicionadas pelas suas caraterísticas, mas o fator decisivo é a nossa cabeça. Felizmente a minha está mais aberta e recetiva do que nunca. E acredito que é possível fazer mais e ir mais longe, dentro de valores aceitáveis ao nível da sanidade mental e do espírito de sacrifício. O corpo esse, vai-se adaptando.

Saí.
Destino - Vista do Rei.

globe_vista_rei.jpg