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Bike Azores

A experimentar o verdadeiro sentido da palavra liberdade!

07.11.19

Bicicletas analógicas


Rui Pereira

Temos uma tendência natural para complicar. Somos seres cheios de necessidades. Precisamos de muitos artefactos para fazer coisas. Adoramos coisas. Coisinhas tecnológicas. Brinquedos inteligentes que têm montes de funções automáticas e que, julgamos nós, não conseguimos viver sem eles.
Nas bicicletas é a mesma coisa. Quanto mais inovadoras, complexas e tecnológicas, melhor. Há quem já não consiga viver sem elas…
Eu não!
A tecnologia é fria e impessoal, de interação duvidosa. É complexa. É ilusória.
Continuo a preferir as mecânicas, mais tradicionais, analógicas e manufaturadas. Privilegio as mais simples e minimalistas. As mais acessíveis e brandas na relação. As mais robustas e menos sensíveis...
A função e o funcionamento estão lá, a estética também, chega!
É pegar, usar e desfrutar, sem pensar muito, sem complicar…

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10.09.19

Ditadura da complexidade!


Rui Pereira

Um dia entrei num stand de automóveis. (não foi de bicicletas, foi mesmo de automóveis). Aliás, entrou o meu filho e disse ao vendedor que eu gostava muito de um modelo específico (às vezes falam demais), enquanto o via da montra. Acabei por entrar e fui logo abordado pelo vendedor. Depois de uma breve troca de palavras começa-me a debitar uma lista interminável de extras que o carro tinha (não ouvi metade). A cada suposta “maravilha tecnológica” descrita atribuía mentalmente uma classificação: fonte de problemas; fonte de problemas; fonte de problemas… (Sim, já tinha descrito esta situação no texto “Choque Tecnológico!”)
A ler revistas de motas constato a frequente chamada de atenção para a mais-valia de se poder conectar o telemóvel com a eletrónica da mota em análise (comprar uma mota que não dê para conectar com o telemóvel? Nem pensar!). E para a dimensão do ecrã (a cores) que compõe o seu painel de instrumentos (mas que fascínio é esse que temos por ecrãs?)…

As bicicletas de hoje também valem muito pelas suas fichas técnicas. Pela nobreza dos seus materiais. Pelas inúmeras inovações, tecnologias e eletrónicas empregues na sua conceção e utilização. Pelo seu reduzido peso. Pela busca incessante da eficácia e eficiência extremas!
Estes “extras” acarretam preços elevados e uma sensibilidade também ela “muito extra” e a necessidade de intervenções cada vez mais especializadas e restritas apenas a alguns, e obviamente dispendiosas ("ah, isso nunca avaria" - dizem).

Um dia um amigo disse-me que tinha instalado um sistema de acionamento eletrónico de velocidades na sua bicicleta. Acrescentou que o sincronizou com o aparelho GPS e até a indicação de velocidade engrenada tinha! Concluiu que tinha agora qualquer coisa parecido com uma bicicleta, mas que não era bem uma bicicleta! (não fui eu que disse, foi ele!)

Sinceramente, as bicicletas atuais são cada vez mais objetos demasiado complexos!

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Um exemplar raro e em vias de extinção!

05.08.17

Uma questão de identificação


Rui Pereira

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A partir de certa altura, depois do meu regresso às bicicletas em 2008, comecei a encarar as mesmas de uma forma muito própria. Longe de ser original, distancia-se consideravelmente daquela que manifestam as pessoas do meio onde me insiro.
Assumir uma postura tranquila perante o ciclismo, afastar-me deliberadamente da competição, empreender uma defesa da bicicleta como meio de transporte em vez de a ver apenas como objeto de desporto e lazer, são algumas das minhas bandeiras, tal como uma escolha de bicicletas próprias para lá do óbvio e do expetável, tendo em conta os desejos atuais, encapotados de necessidades, que habilidosamente se criaram.
O facto é que recentemente desviei-me do caminho que tenho vindo a trilhar, pelo menos no campo das minhas opções, concretizando a aquisição de uma bicicleta que se enquadra em parâmetros até agora negligenciados.
Esta bicicleta não tem nada de mal, até pelo contrário. Aliás, permite-me usufruir de uma série de atributos que possui, que se traduzem em mais conforto, comodidade, eficácia e tempo de alegres pedaladas.
Mas, há sempre um, mas… dois meses depois ainda não me identifiquei com ela da mesma forma com que me identifiquei com as outras, logo nos primeiros dias!
Estamos a falar de uma bicicleta mais atual e evoluída, e indiscutivelmente melhor quando comparada com as minhas outras bicicletas, mas que lhe falta algo tendo em conta aquilo que privilegio. Talvez carisma, modéstia, simplicidade ou a herança da imagem e caraterísticas de gerações antepassadas…

18.07.17

Margem de manobra


Rui Pereira

Mesmo sendo um adepto convicto de uma conceção mais simples e clássica, tenho que admitir que a modernidade e a tecnologia mais avançada podem trazer inegáveis vantagens.
Comprei recentemente uma bicicleta de estrada relativamente atual. Não é o último grito, até porque já tem alguns anos, mas apresenta uma conceção moderna, tanto pela base estrutural em carbono, como pelos componentes que a equipam.
Ainda não tenho uma grande experiência aos seus comandos, até porque tenho andado mais afastado dos pedais do que é normal, mas a forma de encarar as minhas voltas mudou substancialmente.
Agora as maiores distâncias são uma realidade, possíveis pelos superiores níveis de eficácia e comodidade. Expandiram-se os limites. Uma volta que noutra altura era uma extravagância atualmente é a normalidade. Não tenho dados para afirmar que sou mais rápido, mas é certo que a fluidez, o conforto e a segurança são outros, o que faz com que chegue a casa menos maçado e ansioso.
Também seria expetável que assim fosse, já que estamos a falar de bicicletas concetualmente bastantes diferentes. Podia era querer iludir-me nem que fosse para não cair em contradição ou simplesmente não dar o braço a torcer.
Sempre admiti o outro lado (mais negro) das minhas opções mais conservadoras. Assim era e é mais fácil conviver com ele. Continuo a defender estas minhas opções como adequadas, considerando os meus gostos e objetivos, mas não posso negar que estou muito satisfeito com esta mais recente opção, que me permitiu ajustar (e relaxar) a minha atitude, já que agora tenho à disposição uma bicicleta que me dá margem para isso.

 

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31.03.17

Choque tecnológico!


Rui Pereira

Motivado por toda a azafama e animação que se vive por cá com mais uma edição do Azores Airlines Rallye lembrei-me de uma situação. Não têm grande (nenhuma) relação, mas pronto.
Um dia entrei num stand de automóveis. Enquanto o vendedor, para me cativar, ditava orgulhosamente uma extensa lista de extras que um modelo em especial trazia, com certeza estaria longe de pensar que eu, mentalmente, a cada extra atribuía uma classificação. Curiosamente, sempre a mesma para todos eles – Fonte de problemas!
A falta de paciência e interesse não me permitiu perguntar se não tinham apenas o carro? Sem as “mariquices”? Sim, básico, simples, sem nada!
Já deve ter dado para perceber que, no que toca a algumas inovações e à tecnologia aplicada em certos ramos sou um bocado avesso. Tradicionalista, antiquado, chamem-me o que quiserem, não me venham é impingir tecnologia da moda, embrulhada com a capa da utilidade, para fomentar desejos consumistas, como se a minha vida dependesse disso!
Vivo muito bem sem estas “mariquices”! Aliás, até prefiro não ter de pagar por elas, que é da maneira que não me vão distrair, nem chatear no futuro. E ainda poupo dinheiro.
As minhas bicicletas são todas recentes, a mais “antiga” é de 2009. É um bocado ridículo usar esta palavra para adjetivar uma bicicleta que vai fazer oito anos, mas atualmente é mais ou menos assim que as coisas funcionam. Nem rodas 29 tem! Paradoxalmente, é a única com uma estrutura em alumínio, travões de disco hidráulicos e suspensões a ar. Ui!
As outras têm todas quadros de aço e componentes básicos de entrada de gama. São simples e baratas. E, por incrível que pareça, funcionam!

21.04.16

Tecnologia a pedais


Rui Pereira

Sim ou não? Eh pá, não! Quer dizer, não é um não redondo, definitivo e inflexível, até porque depende da abordagem, do tipo de utilização e da própria tecnologia. Além disso, não gosto de fundamentalismos.

Se me perguntarem: mudanças eletrónicas? Eh pá, não! Não mesmo! Agora se me perguntarem: travões de disco numa bicicleta de estrada? Eh pá, sim! Lá está, é a minha abordagem.

Acredito que as mudanças eletrónicas sejam uma maravilha de utilizar, rápidas, silenciosas, eficazes, mas sinceramente, estar dependente de baterias e de carregamentos, mesmo que aquilo dure imenso… Depois tem um grau elevado de sensibilidade e complexidade quando comparado com um equipamento mecânico. E é tudo menos barato. Não é para mim!

Chateia-me a dependência que a tecnologia cria. É mais ou menos como aquela cena de estarmos no trabalho e o PC ir à vida e… para tudo! Se esta dependência existe não tem necessariamente de ser alargada para algo que acho que deve ser simples e descomplicado.

Quanto aos travões de disco, este equipamento em si não tem nada de inovador, a novidade apenas reside na sua adaptação à estrada. Polémicas à parte (lesões em caso de queda?!), acho que o incremento substancial ao nível do funcionamento e da segurança podem justificar a sua utilização.

Normalmente, quem é mais conservador e tradicional nos materiais empregues na construção de uma bicicleta não gosta muito de carbonos e afins. Às vezes brinco com isso, mas reconheço a mais-valia de materiais mais nobres. E aqui, claro, estamos a falar de elevada tecnologia. Agora por questões estéticas, custos e tipo de utilização não consigo arranjar justificação para ter um quadro em carbono todo XPTO, em vez do aço que estrutura a minha “estradeira”.

Para mim e de um modo geral, nas bicicletas, mais tecnologia implica mais cuidados, mais custos e mais chatices. E para chatices já me bastam todas as outras!