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Bike Azores

A experimentar o verdadeiro sentido da palavra liberdade!

10.11.20

Recordar


Rui Pereira

Foi no dia em que a fui buscar que senti logo a exigência e a minha falta de preparação. Quando voltei às bicicletas há 12 anos atrás, arranquei da loja montado com destino a casa. Cerca de 15km, sendo boa parte deles pouco favoráveis ao nível da inclinação. Custou-me, mas foi um relembrar de outros tempos, uma formação prática e intensiva da bicicleta e do seu uso.
O primeiro passeio em grupo também serviu para fazer algumas aferições. Destreza e técnica: assim-assim; forma física: baixa. Mas lá fui com as minhas dificuldades. Foi também importante para voltar a sentir aquele gostinho pelo fora-de-estrada, entretanto adormecido, e conhecer alguns trajetos que repetiria por diversas vezes, tal era o prazer proporcionado.
Outros passeios em grupo vieram, entre família, amigos e colegas, mas os que recordo com mais saudades são em dupla, eu e o meu tio. Grandes manhãs, grandes pedaladas. Com o tempo vieram as evoluções, quer ao nível das bicicletas, quer do à vontade com que encarávamos as dificuldades físicas e técnicas. E claro, do prazer que tirávamos destas mesmas pedaladas.
Nunca ouvi uma queixa da sua boca. Um dia, disse-me satisfeito que fazia aquela descida com cada vez mais confiança e velocidade. Eu sentia o mesmo, fosse nesta descida ou noutro local específico dos nossos percursos habituais. Aliás, via-me a passar nestes mesmos locais em pensamento, tal era o gosto. Contava os dias para chegar ao domingo!
Lembro-me do silêncio, da ausência de palavras. Da descoberta. Do som do vento, do rolar dos pneus sobre terra, pedras e lama… do partir dos galhos à nossa passagem. Do roçar da bicicleta e do corpo na vegetação. Dos sustos. Das travessias de ribeiras. Daquela passagem no limite bem-sucedida. Cada um por si, mas ao mesmo tempo acompanhados.
E lembrei-me disso tudo porque domingo passei numa canada que fizemos tantas vezes. Sonhava com o seu gancho final que fazia em derrapagem e que nos levaria para outra bastante mais exigente e espetacular, onde as condições eram sempre uma incógnita. Então se chovesse de véspera... Já ia ansioso a descer aqueles metros de ligação em betão!

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Algures em Santa Bárbara, Ribeira Grande 

02.11.20

Pedala, pula e salta!


Rui Pereira

Depois de várias semanas a sair sempre com a mesma bicicleta, tenho andado mais democrático. Seja pelas condições atmosféricas menos favoráveis, seja pela menor disponibilidade de tempo da minha parte, o facto é que tenho recorrido aos préstimos da minha bicicleta de todo-o-terreno, normalmente, uma das que menos uso tem.

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(Há duas semanas atrás)


A hegemonia dos pneus finos, da ausência de mudanças e do carreto fixo deu lugar aos pneus volumosos e cardados, às 27 velocidades e às suspensões de curso generoso, o que representa uma grande diferença. Muda o trajeto, as dificuldades, o conforto, o tipo de piso e até a atitude.
Embora esteja muito mais ligado à estrada e às minhas bicicletas de pneus finos, principalmente as mais radicais - fixed-gear, o BTT, entretanto relegado para segundo plano, é uma modalidade do ciclismo pelo qual tenho sempre um gosto especial e me dá muito prazer. E isso vem ao de cima sempre que monto a minha bicicleta de suspensão total, com a sua fantástica versatilidade e polivalência. Anda em todo o lado, passa por cima de tudo… é um à vontade!

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(Ontem)


Depois de me habituar à zoadeira advinda do atrito entre os tacos de borracha e o asfalto, e ao chiar dos travões de disco sempre que apanham humidade, é só desfrutar… é um entra e sai da terra, é um sobe e desce passeios, é um levanta e baixa a roda, é um pula e salta…

22.10.09

TT, BTT e afins…


Rui Pereira

Num blog temático, embora tente diversificar cada vez mais os temas abordados, é natural que de vez em quando se caia na repetição e até na contradição.
Já muitas vezes referi a minha relação íntima com o Todo-o-terreno, inicialmente com as motos e mais recentemente com as bicicletas. É uma relação que nunca foi exactamente como queria e nem sempre tem sido amigável, com eventuais avanços e retrocessos.
Se passei anos a sonhar com a moto de TT ideal, quando tive oportunidade de ter uma (que não a ideal), se calhar já foi tarde, e para mim a linha entre o divertimento e o sofrimento era muito ténue. Decidi que não era aquilo que pretendia, talvez mesmo de forma definitiva.
Há menos de 1 ano, com a compra da bicicleta, uma BTT, claro, verifiquei que tinha uma nova oportunidade, mesmo que em parâmetros diferentes, de usufruir das mais-valias do todo-o-terreno e tirando partido da parte física, também essencial. Podia concretizar o meu gosto de forma mais segura, menos dispendiosa, mas igualmente divertida.
É certo que também surgiram alguns constrangimentos, mas basicamente só quando tentei dar um passo maior do que a perna, ou seja, forcei demasiado no capítulo das minhas disposições e limitações.
Isso não volto a fazer, pelo menos conscientemente, sem ter algumas bases para tal, como sejam a técnica e acima de tudo a auto-confiança, mas não será propriamente uma das minhas prioridades pois tenho uma forma própria de encarar esta actividade e mesmo tentando sempre fazer mais e melhor, o que implicará esforço e risco, tenho limites e sempre presente o binómio divertimento/sofrimento, com clara prioridade para o primeiro factor.
No BTT, como em tudo, tento pautar a minha vida pelo equilíbrio, mas contraditoriamente, às vezes considero-me e tenho atitudes de extremos – 8 ou 80! Mas isto já é outra conversa...
Sou claramente um ciclista de lazer e é assim que me apresento tanto na teoria, com a Licença de Betetista da Federação Portuguesa de Ciclismo, como na prática, com uma postura basicamente entusiasta em cima da bicicleta.
Isso não quer dizer que nos percursos habituais, não tente a cada passagem melhorar ao nível da velocidade, do à vontade a ultrapassar obstáculos, de “trepar” aquela subida muito íngreme sem desmontar, mas dentro dos limites por mim pré-estabelecidos.
De facto, com a prática isto acontece e é estimulante apercebermo-nos da nossa evolução, mas é este mesmo entusiasmo que por vezes leva a excessos, nada que uma eminência de queda, ou uma queda efectiva não arrefeça. Digamos que é o lado regulador de uma coisa que não é boa, nem aqui, nem em parte nenhuma, mas que faz parte.
Esta atitude limitada, dirão alguns, também não me impede de estar sempre a ver bicicletas, pensando num possível “upgrade”. Sim, porque também gosto de coisas boas e reconheço as diferenças. Se uma suspensão total em carbono de apenas 2 pratos pedaleiros, “ready to race”, será um desperdício, uma FS ou uma rígida com um quadro ligeiro em alumínio, uns travões hidráulicos e uma forquilha eficaz, seria bem-vinda, obviamente.
Posturas à parte, o que sei é que já não ando à 2 semanas de bicicleta e dou por mim a pensar naquele gancho a descer que faço em derrapagem, naquela descida escorregadia com pedra solta que desço à força de braços pendurado no travão de trás, naquela subida em que agarro as extensões e “martelo” nos pedais de pé e na travessia daquele curso de água, que actualmente faço mais devagar pois preciso dos sapatos secos para o Cycling no dia seguinte!