18.07.16
Vida de bicicleta!
Rui Pereira
Lá vem ele. Sempre que está vestido com aquelas roupas esquisitas e apertadas vem-me buscar. Acertei. Pega-me com algum cuidado com as duas mãos, uma na minha forqueta, outra no lado posterior do meu triângulo traseiro. Eh pá, não! Encostou-me à parede e traz a bomba. Detesto aquela bomba! Então não é que me atesta os pneus com tanto ar que quase os sinto rebentar? Como é que não percebe que é ar a mais? Caramba! Colocou o capacete, as luvas e os óculos, lá vamos nós, porta fora. Ai… Ai… Podes encaixar os sapatos nos meus pedais mais devagar, se faz favor? Vá lá que os calções esquisitos têm uma almofada por baixo, que este gajo ainda é pesado! Olha a descida. Vai devagar que ainda estou a despertar, ok? Com este menino é tudo à bruta, mas deixa chegar aquela subida que já vamos ver quem é mais esperto! Então? Parece que o menino perdeu a força. Querias umas mudanças agora não era? Não tenho, temos pena! Mas já não sei o que é melhor... Está a fazer tanta pressão nos meus punhos e a carregar-me os pedais com tanta força, que quase me rebenta a corrente. Ufa, estou cansada! Agora terreno plano, é só rolar. Olha a lomba, a lomba! Já sei, vai saltar e as minhas rodas que se lixem! Agora afaga-me as manetes de travão, vá lá, vamos parar. Sim, não parece mas também preciso descansar. Espera aí, estás a ver aquele passeio não estás? Pssst, o passeio! Vá abranda, para e desmonta. Queres ver que ele quer subir o passeio? Autch! Sentiste a pancada que a minha roda traseira deu? Eu senti. Depois queixa-te. Já sei que, as minhas queixas não as ouves e só lhes ligas quando as mostro! Chegámos. Eh pá, já para o suporte? Nem um paninho para me tirar o pó? Sinceramente, já não és o que eras! Olha, faz como quiseres, mas espero que amanhã ou depois te lembres de mim. Muito aguenta uma bicicleta. Isso é que é. Senta-se em cima e a faz o que muito bem entende. É a minha vida... Vida de bicicleta!